Por que o tratamento do câncer de ovário ainda é insuficiente? Cirurgião de referência analisa os desafios na cirurgia oncológica. 15

Por que o tratamento do câncer de ovário ainda é insuficiente? Cirurgião de referência analisa os desafios na cirurgia oncológica. 15

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O principal especialista em neoplasias malignas da superfície peritoneal, Dr. Paul Sugarbaker, explica por que o tratamento cirúrgico padrão atual para câncer de ovário é inadequado. Ele defende uma abordagem cirúrgica mais radical, detalhando os princípios da citorredução completa e enfatizando a necessidade de remover toda a doença visível. O Dr. Sugarbaker também aborda a importância crítica da seleção adequada de pacientes para procedimentos extensos. A combinação da cirurgia com quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (QIPH) é apresentada como a estratégia de tratamento ideal.

Otimização da Cirurgia do Câncer de Ovário: Além da Citorredução Convencional

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O Problema com o Padrão Cirúrgico Atual do Câncer de Ovário

O Dr. Paul Sugarbaker identifica uma falha fundamental na abordagem predominante da cirurgia do câncer de ovário. O padrão de cuidado para a maioria dos cirurgiões é a citorredução tumoral, que consiste na remoção de parte — mas não da totalidade — do tumor. Os cirurgiões que adotam essa prática dependem da quimioterapia sistêmica para eliminar as células cancerígenas remanescentes.

O Dr. Sugarbaker é categórico em sua avaliação, classificando esse conceito como "ruim". Ele argumenta que, embora a quimioterapia para câncer de ovário seja mais eficaz do que para cânceres gastrointestinais, ela não substitui uma ressecção cirúrgica completa. Esse padrão inadequado contribui para resultados de longo prazo insatisfatórios.

Princípios da Cirurgia Citorredutora Radical para Câncer de Ovário

A alternativa superior, segundo o Dr. Paul Sugarbaker, é uma citorredução meticulosa e completa. Essa técnica envolve procedimentos de peritonectomia e ressecções viscerais necessárias, com o objetivo de alcançar um estado sem evidência visível de doença.

Essa ressecção radical de todo tumor visível constitui a base do tratamento aprimorado. O Dr. Sugarbaker afirma que são os mesmos princípios da oncologia cirúrgica aplicados com sucesso no mesotelioma peritoneal. Ele defende que essa abordagem abrangente deveria ser o padrão tanto para o câncer de ovário primário quanto para o recorrente, mas ainda não é amplamente adotada na prática clínica.

Seleção de Pacientes para Cirurgia Extensa do Câncer de Ovário

O Dr. Paul Sugarbaker ressalta que nem todos os pacientes são candidatos imediatos a uma operação tão extensa. A seleção criteriosa é primordial para o sucesso da cirurgia citorredutora radical. Fatores como idade e condicionamento físico devem ser minuciosamente avaliados.

O médico adverte contra a realização de um procedimento de oito horas em pacientes idosos e com menor capacidade física. O risco de mortalidade pós-operatória ou de qualidade de vida permanentemente comprometida é significativo. A entrevista com o Dr. Anton Titov destaca a necessidade ética e clínica dessa seletividade, para garantir que os benefícios superem os riscos.

Integração da Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica (QIPH) com a Citorredução do Câncer de Ovário

O Dr. Paul Sugarbaker apresenta sua principal recomendação para o tratamento do câncer de ovário avançado: a combinação da cirurgia citorredutora completa com a Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica (QIPH). Essa abordagem multimodal ataca a doença em duas frentes.

A cirurgia remove toda a doença macroscópica, enquanto a QIPH administra quimioterapia aquecida diretamente na cavidade abdominal, visando células cancerígenas microscópicas remanescentes. Essa estratégia tem potencial para melhorar significativamente as taxas de sobrevida.

O Caminho para Melhorar os Resultados do Tratamento do Câncer de Ovário

Para o Dr. Paul Sugarbaker, o primeiro e mais crucial passo para melhorar os resultados é adotar uma nova filosofia cirúrgica. Os cirurgiões devem ir além da citorredução simples e buscar a remoção completa da doença visível, o que exige treinamento especializado em técnicas de peritonectomia e ressecção visceral.

A implementação generalizada dessa estratégia, aliada à seleção criteriosa de pacientes e à QIPH, representa o futuro do cuidado do câncer de ovário. Como conclui o Dr. Sugarbaker, essa mudança é essencial para oferecer aos pacientes a melhor chance de sobrevida de longo prazo com qualidade de vida.

Transcrição Completa

Dr. Paul Sugarbaker: Eis o que eu diria sobre a cirurgia do câncer de ovário atualmente. Hoje, o conceito de tratamento cirúrgico do câncer de ovário é a citorredução tumoral. Este é o padrão de cuidado para a maioria dos cirurgiões.

"Citorredução" significa a remoção de parte, mas não de todo, o tumor. Os cirurgiões removem apenas uma parcela do tumor e esperam que a quimioterapia sistêmica elimine o restante das células cancerígenas.

É verdade que a quimioterapia no câncer de ovário é bastante eficaz — mais do que no câncer gastrointestinal. Mas o padrão atual de citorredução cirúrgica é um conceito ruim. É um conceito ruim.

Pacientes com câncer de ovário deveriam receber uma citorredução meticulosa, com peritonectomia e ressecções viscerais, até que não haja evidência visível de doença. Deveriam passar por uma ressecção radical de todo câncer visível, como fazemos no mesotelioma peritoneal. Isso não está acontecendo atualmente.

A ressecção cirúrgica radical de todo tumor é o primeiro e maior passo para melhorar o tratamento. O objetivo é trazer esses princípios de oncologia cirúrgica para todos os pacientes com câncer de ovário, seja primário ou recorrente. Eles merecem o melhor tratamento cirúrgico.

Dr. Anton Titov: No momento, isso não está ocorrendo. Mais pacientes com câncer de ovário deveriam ter uma ressecção cirúrgica mais eficaz?

Dr. Paul Sugarbaker: Não, não é o padrão atual. Apenas um pequeno número de pacientes recebe esse tratamento. É uma cirurgia muito meticulosa para remover toda a disseminação tumoral no peritônio.

Algumas pacientes são idosas e menos condicionadas. Não é apropriado submetê-las a um procedimento de oito horas, com citorredução e QIPH. É preciso ser seletivo ao indicar a ressecção radical.

Não vale a pena realizar uma grande operação e ver a paciente morrer no pós-operatório. Também não é ético submeter alguém a uma cirurgia tão extensa se ela não puder recuperar uma qualidade de vida razoável. A seleção é crucial.

Dr. Anton Titov: Mas o primeiro passo para melhorar os resultados é que o cirurgião utilize peritonectomia e ressecção visceral para remover toda evidência visível de doença.

Dr. Paul Sugarbaker: Minha principal recomendação para o tratamento do câncer de ovário atualmente é a cirurgia citorredutora meticulosa e completa combinada com Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica (QIPH).