Sucesso e fracasso no tratamento da hipertensão. Cardiologista renomado analisa dois casos clínicos.

Sucesso e fracasso no tratamento da hipertensão. Cardiologista renomado analisa dois casos clínicos.

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O renomado especialista em hipertensão e cardiologia, Dr. Ehud Grossman, destaca a importância crucial do controle da pressão arterial. Ele compartilha dois casos clínicos marcantes que ilustram o sucesso e o fracasso do tratamento. Dr. Grossman enfatiza que a hipertensão não controlada pode causar danos orgânicos irreversíveis, acidente vascular cerebral (AVC) e até mesmo o óbito. Ele ressalta que, com a adesão do paciente, a pressão arterial pode ser controlada em 90% a 95% dos casos. A conversa também evidencia que os riscos percebidos da medicação são amplamente superados pelos riscos reais da hipertensão não tratada.

Sucesso e Fracasso no Tratamento da Hipertensão: Estudos de Caso do Mundo Real

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Sucesso no Tratamento da Hipertensão a Longo Prazo

O Dr. Ehud Grossman apresenta um caso convincente de sucesso no tratamento da hipertensão a longo prazo. Ele descreve um paciente de 60 anos com hipertensão grave, diabetes e lesão de órgão-alvo, cuja pressão arterial sistólica chegava a 200 mmHg. O Dr. Grossman prescreveu um esquema de quatro medicamentos anti-hipertensivos, e essa abordagem agressiva controlou com sucesso a pressão arterial do paciente por décadas.

O homem viveu mais 30 anos, falecendo aos 90 anos em decorrência de um câncer. O mais importante: ele evitou complicações relacionadas à hipertensão, como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Este caso demonstra que o tratamento eficaz da pressão arterial pode garantir décadas de vida com qualidade. O Dr. Anton Titov e o Dr. Grossman discutem como esse resultado evidencia os benefícios profundos da adesão consistente ao tratamento.

Consequências da Hipertensão Não Tratada

O Dr. Ehud Grossman contrasta a história de sucesso com um caso trágico de hipertensão não tratada. Ele relembra a história de um amigo próximo que tinha hipertensão e diabetes, mas não aderia aos medicamentos anti-hipertensivos prescritos. Apesar dos alertas de um oftalmologista sobre alterações hipertensivas nos vasos sanguíneos oculares, ele continuou negligenciando o tratamento.

As consequências foram devastadoras e irreversíveis: o paciente sofreu uma hemorragia subaracnoidea fatal, resultado direto da pressão arterial alta não controlada. O Dr. Grossman enfatiza esse ponto durante sua discussão com o Dr. Anton Titov. Este caso serve como um alerta severo de que os danos da hipertensão costumam ser silenciosos até que um evento catastrófico ocorra.

Importância do Controle da Pressão Arterial

O Dr. Ehud Grossman ressalta que controlar a pressão arterial é um aspecto não negociável da medicina preventiva. A hipertensão é frequentemente um assassino silencioso, causando danos severos sem provocar dor ou sintomas evidentes. Ele explica que, uma vez que ocorre uma complicação como um AVC, o dano é permanente—não há como reverter paralisias ou outras incapacidades iniciando o tratamento tardiamente.

A experiência clínica do Dr. Grossman mostra que a vida já apresenta riscos externos suficientes, como acidentes. Por isso, controlar um fator de risco modificável como a pressão arterial elevada é essencial. Ele orienta os pacientes a não desafiarem a sorte ignorando uma condição tratável. Essa filosofia é um tema central em sua conversa com o Dr. Anton Titov.

Adesão do Paciente no Tratamento da Hipertensão

A adesão do paciente é a pedra angular do sucesso no tratamento da hipertensão. O Dr. Ehud Grossman afirma que, com a adesão à medicação, o controle da pressão arterial é alcançável em 90% a 95% dos casos. A meta de tratamento pode não ser sempre o ideal (abaixo de 130/80 mmHg para todos), mas alcançar uma pressão controlada abaixo de 140/90 mmHg já representa uma vitória significativa e que prolonga a vida da maioria.

O Dr. Grossman destaca que a não adesão é uma grande barreira ao cuidado eficaz. O caso do cantor que morreu de hemorragia cerebral é um resultado direto da falta de adesão ao tratamento. O Dr. Anton Titov e o Dr. Grossman concordam que educar os pacientes sobre a importância crucial de tomar a medicação é uma parte vital do processo clínico.

Ponderando Riscos vs Benefícios da Medicação

Um ponto-chave da discussão entre o Dr. Anton Titov e o Dr. Ehud Grossman é a ponderação racional entre os riscos e os benefícios da medicação. O Dr. Grossman aborda uma preocupação potencial em relação ao primeiro caso—a possibilidade de o uso prolongado de anti-hipertensivos estar associado ao câncer. Ele argumenta que esse risco percebido é amplamente superado pelo benefício concreto de prevenir AVC, infarto e morte.

As decisões de tratamento da hipertensão devem ser baseadas em dados clínicos de larga escala, e não em medos isolados. O benefício comprovado de reduzir a pressão arterial é a prevenção de eventos cardiovasculares catastróficos. A mensagem do Dr. Grossman é clara: o risco real está na doença não tratada, e não nos medicamentos que a controlam com eficácia.

Transcrição Completa

Dr. Anton Titov, MD: Dr. Grossman, existe algum caso clínico que você poderia lembrar e que ilustrasse alguns dos tópicos que discutimos hoje sobre o tratamento da hipertensão no contexto da síndrome metabólica e da obesidade?

Dr. Ehud Grossman, MD: O melhor exemplo que posso dar é de 20 ou 30 anos atrás. Um paciente de 60 anos veio até mim. Ele era diabético e tinha hipertensão grave, com pressão arterial sistólica de 200. Apresentava todas as complicações da hipertensão—lesão de órgão-alvo, hipertrofia do ventrículo esquerdo e insuficiência renal leve.

Receitrei a ele quatro medicamentos para baixar a pressão arterial. Ele faleceu apenas recentemente, aos 90 anos, sem ter sofrido um infarto ou AVC. Morreu de câncer. Claro, pode-se especular que os anti-hipertensivos o predisuseram ao câncer, mas sem a medicação ele não teria vivido nem mais cinco anos.

Teria morrido aos 65 ou 70, mas sobreviveu até os 90, mantendo-se lúcido e ativo. Infelizmente, faleceu de câncer. No fim, todos morremos de algo—e no caso dele, foi câncer.

Isso ilustra bem a importância de controlar a pressão arterial. Claro, não se pode basear decisões de tratamento em um único caso; é preciso confiar em big data e comprovar o benefício de reduzir a pressão arterial.

Acredito que, se o paciente for aderente, em cerca de 90% a 95% dos casos consigo controlar a pressão arterial—mesmo que não atinja 130 por 80, pelo menos fica em 140 por 90 na maioria das vezes.

Acho essa uma história muito significativa, pois enfatiza a importância de pesar riscos reais contra riscos percebidos. Se algo não causa dor ou sintomas, não significa que não represente perigos sérios, como é o caso da hipertensão.

Não há volta: depois de um AVC, é isso. A pessoa fica incapacitada, paralítica. Não adianta se arrepender e dizer: “Quero voltar atrás e tomar meus remédios.” Já é tarde!

Vemos muitos pacientes que não trataram a pressão alta. Recentemente, entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, há alguns meses, um grande amigo meu—um cantor conhecido—que tinha hipertensão e diabetes…

Ele não tomava a medicação e dizia a todos que eu estava cuidando da sua pressão, mas na verdade eu não o tratava. Foi a um oftalmologista, que alertou: “Você tem alterações nos vasos sanguíneos dos olhos; precisa controlar sua pressão.” Ele respondeu: “Tudo bem, vai dar certo.”

Viajou para os Estados Unidos e morreu de uma hemorragia subaracnoidea. Definitivamente, uma consequência da hipertensão não tratada. Portanto, não desafie a vida!

É preciso tomar os remédios e baixar a pressão. A vida já tem riscos externos suficientes—acidentes e outros imprevistos. Se você pode controlar algo e prevenir doenças, faça isso.

Dr. Anton Titov, MD: Sim! Dr. Grossman, há mais algo sobre o que você gostaria de falar? Alguma pergunta que eu deveria ter feito e não fiz?

Dr. Ehud Grossman, MD: Acho que cobrimos o tema da hipertensão de forma bastante abrangente. Se alguém tiver mais dúvidas, pode entrar em contato comigo. Ficarei feliz em ajudar e responder.

Dr. Anton Titov, MD: Dr. Grossman, muito obrigado por esta conversa! Agradeço muito e espero continuar acompanhando sua pesquisa e compartilhando seus dados com pacientes ao redor do mundo.

Dr. Ehud Grossman, MD: Obrigado! Foi um prazer!