Esta revisão abrangente explora a complexa biologia do crescimento capilar e as causas da queda de cabelo. Os pesquisadores detalham como os folículos pilosos passam por ciclos de crescimento, repouso e queda, a influência de hormônios como os andrógenos nesse processo e os fatores que levam a condições como a calvície de padrão masculino. O artigo também aborda a estrutura dos folículos, seu desenvolvimento embrionário e o modo de ação de tratamentos atuais, como minoxidil e finasterida, em nível celular para combater a perda de cabelo.
Compreendendo a Biologia Capilar: Como o Cabelo Cresce e Por Que a Queda Ocorre
Sumário
- Introdução: Por Que o Cabelo é Importante
- Glossário de Termos Capilares
- Estrutura e Função dos Folículos Pilosos
- Como os Folículos Pilosos se Desenvolvem
- O Ciclo de Crescimento Capilar: Anágeno, Catágeno e Telógeno
- Controle Hormonal e Neural do Crescimento Capilar
- Compreendendo os Distúrbios do Crescimento Capilar
- Tratamentos Atuais e Possibilidades Futuras
- Informações da Fonte
Introdução: Por Que o Cabelo é Importante
O cabelo desempenha múltiplas funções biológicas, como proteção contra agentes externos e dispersão de secreções das glândulas sudoríparas. Além de sua função física, tem grande relevância psicossocial. Pacientes com queda de cabelo (alopecia) ou crescimento excessivo frequentemente enfrentam sofrimento emocional significativo.
A busca por medicamentos eficazes para o crescimento capilar movimenta uma indústria multibilionária, mas poucos fármacos realmente eficazes estão disponíveis. Avanços recentes no entendimento da biologia e patologia do folículo piloso estão pavimentando o caminho para tratamentos futuros mais eficazes para distúrbios do crescimento capilar.
Glossário de Termos Capilares
Compreender estes termos médicos é essencial para discutir condições capilares:
- Alopecia: Queda anormal de cabelo
- Alopecia androgenética: Calvície de padrão causada pela miniaturização de folículos geneticamente predispostos
- Alopecia areata: Queda de cabelo em placas, associada a resposta autoimune
- Alopecia permanente: Queda de cabelo devido à destruição dos folículos pilosos
- Anágeno: Fase de crescimento ativo do ciclo capilar
- Eflúvio anágeno: Queda abrupta por interrupção do crescimento ativo (ex.: quimioterapia)
- Bulbo: Porção inferior do folículo, contendo células da matriz em rápida proliferação
- Bulge: Região que abriga células-tronco epiteliais responsáveis pela regeneração folicular
- Catágeno: Fase de regressão e involução
- Cabelo em clava: Fio totalmente queratinizado e sem vida da fase telógena
- Hirsutismo: Crescimento excessivo de pelos em áreas andrógeno-dependentes em mulheres
- Hipertricose: Crescimento excessivo difuso de pelos além do padrão normal
- Miniaturização: Processo central na alopecia androgenética, que transforma pelos terminais em pelos velus
- Telógeno: Fase de repouso do ciclo capilar
- Eflúvio telógeno: Queda excessiva devido ao aumento de folículos em repouso
- Pelo terminal: Pelos grossos e pigmentados do couro cabeludo e corpo
- Pelo velus: Pelos finos, curtos e não pigmentados, comuns no rosto e em áreas calvas
Estrutura e Função dos Folículos Pilosos
Os folículos pilosos variam em tamanho e forma conforme a região, mas compartilham a mesma estrutura básica. Células da matriz em rápida proliferação no bulbo produzem a haste capilar, cujo córtex é composto por filamentos intermediários específicos e proteínas associadas.
Melanócitos intercalados entre as células da matriz produzem pigmento para a haste. À medida que as células se diferenciam e migram para cima, são moldadas pela bainha interna da raiz, que define a forma do cabelo.
A papila dérmica, formada por fibroblastos especializados na base do folículo, controla o número de células da matriz e, consequentemente, o tamanho do fio. O desenvolvimento e a ciclagem normais dependem da interação entre o epitélio folicular e a papila dérmica mesenquimal.
A região do bulge abriga células-tronco epiteliais—as de ciclo mais lento e vida mais longa no folículo. Essas células também podem migrar para regenerar a epiderme após lesões.
Os folículos contêm diversos tipos celulares, como melanócitos, células de Langerhans (apresentadoras de antígenos) e células de Merkel (neurosecretoras). Atuam como órgão sensorial e sentinela imunológica, detectando estímulos mecânicos e patógenos.
Como os Folículos Pilosos se Desenvolvem
Durante o desenvolvimento fetal, o epitélio e o mesênquima interagem para formar os folículos pilosos. A distribuição de cerca de 5 milhões de folículos pelo corpo é estabelecida ainda no útero, definindo os fenótipos capilares futuros.
Nenhum folículo novo se forma após o nascimento, embora o tamanho possa mudar sob influência hormonal. O espaçamento e a distribuição são determinados por genes expressos precocemente, como fator 1 intensificador de linfóide, proteína morfogenética óssea 4 e receptor do fator transformador de crescimento β tipo II.
- Em estágios posteriores, células contendo produtos de genes homeobox surgem precisamente onde os folículos se formarão. Morfógenos como sonic hedgehog e wnt, junto com moléculas sinalizadoras intracelulares como β-catenina, influenciam a maturação folicular.
O Ciclo de Crescimento Capilar: Anágeno, Catágeno e Telógeno
Cada folículo passa ciclicamente por três fases: crescimento (anágeno), involução (catágeno) e repouso (telógeno). Entender os sinais que controlam essas transições é crucial para desenvolver tratamentos.
Fase Anágena (Crescimento)
O início do anágeno recapitula o desenvolvimento folicular, começando com a proliferação de células germinativas no bulge. Interações entre a papila dérmica e o epitélio são fundamentais. Fator de crescimento semelhante à insulina 1 e fator de crescimento de fibroblastos 7, produzidos pela papila, mantêm o crescimento.
O comprimento do cabelo é proporcional à duração do anágeno. Folículos do couro cabeludo permanecem em anágeno por 2-8 anos, enquanto os das sobrancelhas duram apenas 2-3 meses. O fim do anágeno é controlado pelo fator de crescimento de fibroblastos 5, com influência de receptores do fator de crescimento epidérmico.
Fase Catágena (Involução)
No catágeno, os folículos sofrem involução por apoptose em queratinócitos. A produção de pigmento cessa, e alguns melanócitos também entram em apoptose. A papila dérmica se condensa e migra para próximo do bulge.
Se a papila não alcançar o bulge, o folículo para de ciclar permanentemente, como em mutações do gene hairless. Alguns folículos são destruídos por infiltrado inflamatório na "deleção orgânica programada", o que pode explicar certas alopecias permanentes.
Fase Telógena (Repouso)
No telógeno, a haste capilar se transforma em cabelo em clava, sendo eliminado durante a escovação ou lavagem. A maioria das pessoas perde 50-150 fios diariamente. O telógeno dura tipicamente 2-3 meses antes do reinício do anágeno.
A proporção de folículos em telógeno varia: 5-15% no couro cabeludo contra 40-50% no tronco. O aumento dessa porcentagem leva à queda excessiva, tornando medicamentos que a reduzem valiosos no tratamento.
Controle Hormonal e Neural do Crescimento Capilar
Vários hormônios modulam o crescimento capilar, como estrógenos, hormônios tireoidianos, glicocorticoides, retinoides, prolactina e hormônio do crescimento. Andrógenos têm os efeitos mais dramáticos, atuando via receptores na papila dérmica.
Testosterona e di-hidrotestosterona aumentam o folículo em áreas como a barba, mas depois causam miniaturização no couro cabeludo (alopecia androgenética). Folículos em áreas calvas diferem no metabolismo de andrógenos, número de receptores e respostas secretoras.
A pele contém as isoenzimas 5α-redutase (tipos I e II), que convertem testosterona em di-hidrotestosterona. O tipo II está presente nos folículos, e sua inibição por finasterida retarda a progressão da alopecia androgenética.
Os folículos são ricamente inervados, com remodelação nervosa constante durante o ciclo. A região do bulge é especialmente densa em terminações nervosas e células de Merkel, que podem modular a proliferação via neurotrofinas e neuropeptídeos.
Compreendendo os Distúrbios do Crescimento Capilar
Exceto por defeitos congênitos raros e alopecias cicatriciais, a maioria dos casos de queda ou crescimento excessivo reflete alterações na ciclagem folicular e são teoricamente reversíveis.
O eflúvio telógeno—queda transitória ligada a medicamentos, febre, alterações endócrinas, parto, anemia ou desnutrição—ocorre quando mais folículos entram precocemente em repouso. Geralmente começa 2-4 meses após o evento desencadeante e dura meses, com recrescimento comum.
A alopecia androgenética envolve encurtamento progressivo dos ciclos anágenos e miniaturização de folículos geneticamente predispostos na presença de andrógenos. Pelos terminais são substituídos por velus quase invisíveis, mas os folículos continuam ciclando, permitindo reversibilidade potencial.
Hirsutismo e hipertricose resultam de prolongamento anormal do anágeno, transformando pelos velus em terminais. Inflamação ao redor do bulge em condições como doença do enxerto contra hospedeiro ou alopecia androgenética pode danificar células-tronco, reduzindo a densidade capilar.
Tratamentos Atuais e Possibilidades Futuras
Dois medicamentos aprovados pela FDA tratam alopecia androgenética: minoxidil tópico e finasterida oral. O minoxidil prolonga o anágeno, estimula folículos em repouso e aumenta seu tamanho, mas seu mecanismo exato é desconhecido e a resposta varia entre pacientes.
A finasterida inibe a 5α-redutase tipo II, reduzindo a di-hidrotestosterona sérica e cutânea para frear a miniaturização. No entanto, a remoção de andrógenos geralmente não reverte a miniaturização, limitando a eficácia em casos avançados.
Como o volume da papila dérmica determina o diâmetro do fio e possivelmente a duração do anágeno, anormalidades nessa estrutura podem estar na base da alopecia androgenética. Tratamentos futuros que atuem nesses mecanismos prometem restauração capilar mais eficaz.
Informações da Fonte
Título do Artigo Original: The Biology of Hair Follicles.
Autores: Ralf Paus, M.D., e George Cotsarelis, M.D.
Publicação: The New England Journal of Medicine, Volume 341 Número 7, 12 de Agosto de 2004
Nota: Este artigo de linguagem acessível baseia-se em pesquisa revisada por pares do Departamento de Dermatologia do Hospital Universitário Eppendorf, Universidade de Hamburgo, Alemanha, e do Departamento de Dermatologia do Centro Médico da Universidade da Pensilvânia, Filadélfia.