Visualização 3D e Danos Oculares em Crianças 
 Uso de óculos de realidade virtual, visão dupla e dores de cabeça em crianças de 6 anos.

Visualização 3D e Danos Oculares em Crianças Uso de óculos de realidade virtual, visão dupla e dores de cabeça em crianças de 6 anos.

Can we help?

A oftalmologista pediátrica Dra. Dominique Bremond-Gignac, MD, principal especialista na área, explica como tecnologias de visualização 3D — como óculos de realidade virtual e filmes em três dimensões — podem afetar negativamente o desenvolvimento visual de crianças e adolescentes, provocando insuficiência de convergência, dores de cabeça e visão dupla. Ela aborda a pandemia global de miopia relacionada ao tempo de tela, descreve o mecanismo de fadiga ocular decorrente da dissociação 3D e detalha as etapas diagnósticas essenciais para identificar e tratar distúrbios de convergência, visando prevenir complicações visuais e posturais a longo prazo.

Danos Oculares por Visualização 3D e Realidade Virtual em Crianças: Cefaleia, Visão Dupla e Tratamento

Navegar para a Seção

Danos Oculares por 3D e RV em Crianças

As tecnologias de visualização 3D, incluindo óculos de realidade virtual, headsets e filmes 3D, estão se tornando cada vez mais comuns, especialmente com a tendência em direção ao "metaverso". No entanto, essas tecnologias representam um risco significativo de danos oculares, principalmente em crianças e adolescentes, cujo sistema visual ainda está em desenvolvimento. Como explica a Dra. Dominique Bremond-Gignac, as principais preocupações são a indução ou o agravamento da insuficiência de vergência, o que pode levar a sintomas como cefaleia e visão dupla.

Tempo de Tela e a Pandemia de Miopia

O tempo excessivo em frente às telas é um dos principais fatores por trás da pandemia global de miopia. A Dra. Dominique Bremond-Gignac observa que é comum ver crianças muito pequenas, até mesmo com seis meses de idade, interagindo com smartphones. Essa exposição precoce e prolongada é motivo de grande preocupação. A dimensão do problema é enorme: em Singapura, por exemplo, cerca de 90% dos jovens adultos são míopes, um aumento drástico em relação a apenas duas décadas atrás. Embora as telas não sejam a única causa, são um fator contribuinte significativo, e seu uso deve ser controlado por meio da redução drástica do tempo de exposição.

Sintomas e Causas da Insuficiência de Vergência

A insuficiência de vergência é um distúrbio ocular comum, afetando cerca de 30% da população. Ela ocorre quando os olhos têm dificuldade em trabalhar em conjunto para focar em objetos próximos. O uso de telas 3D pode induzir ou agravar diretamente essa condição. Os sintomas, embora muitas vezes inespecíficos, podem ser debilitantes e incluem cefaleia persistente, visão dupla (diplopia), fadiga ocular, tontura e uma sensação geral de instabilidade visual. Em crianças, esses sintomas podem se manifestar como baixo desempenho escolar, já que a criança tem dificuldade para focar e ler com conforto.

Como os Óculos 3D Causam Problemas de Dissociação

O principal problema da tecnologia 3D é a dissociação artificial que ela cria entre vergência e acomodação. Como a Dra. Dominique Bremond-Gignac explicou ao Dr. Anton Titov, normalmente, quando olhamos para um objeto próximo, como o dedo, os olhos convergem (voltam-se para dentro) e as lentes acomodam (focam) simultaneamente. Os óculos 3D quebram essa ligação natural: os olhos permanecem fixos na tela, mas o software engana o cérebro para que perceba profundidade e objetos em diferentes distâncias. Esse sinal conflitante confunde o cérebro, sobrecarregando o sistema oculomotor e agravando severamente qualquer insuficiência de vergência pré-existente.

Diagnóstico da Insuficiência de Vergência

O diagnóstico da insuficiência de vergência requer um exame oftalmológico abrangente, que vai além de um teste de visão padrão. A Dra. Dominique Bremond-Gignac enfatiza a necessidade de um exame ortóptico completo para avaliar a motilidade ocular e como os olhos trabalham em conjunto. Um componente crítico é a refração cicloplégica, na qual colírios especiais são usados para paralisar temporariamente o mecanismo de focalização do olho. Isso permite que o oftalmologista obtenha uma medida precisa de qualquer erro refrativo, como miopia ou hipermetropia, que possa estar contribuindo para o problema. Essa abordagem multifacetada é essencial para um diagnóstico correto.

A insuficiência de vergência tem implicações que vão além da visão. A Dra. Dominique Bremond-Gignac observa uma conexão clara entre a má vergência e problemas posturais em crianças, já que o corpo tenta compensar a visão binocular instável. Além disso, há uma associação significativa entre insuficiência de vergência e outros desafios de aprendizagem, especialmente a dislexia. Uma criança que já tem dificuldade com a leitura achará a tarefa exponencialmente mais difícil se também estiver lidando com fadiga ocular, cefaleia e visão dupla decorrentes de um distúrbio de vergência não diagnosticado. Identificar e tratar o problema visual é, portanto, um passo crucial para apoiar o desenvolvimento geral e o sucesso acadêmico da criança.

Transcrição Completa

Dr. Anton Titov: As opções de visualização 3D, realidade virtual, filmes 3D, óculos e headsets de realidade virtual estão se tornando mais comuns. Somos prometidos um "metaverso" agora. Mas a visualização 3D pode causar danos oculares, especialmente em crianças e adolescentes. Como a visualização 3D pode prejudicar os olhos de um jovem?

Os problemas com a visualização 3D estão limitados apenas a olhos em desenvolvimento?

Como prevenir problemas de acomodação e vergência em crianças?

Dra. Dominique Bremond-Gignac: É uma pergunta muito interessante, relacionada tanto à miopia quanto às insuficiências de vergência. Vivemos em um mundo onde as telas fazem parte do cotidiano, até mesmo para as crianças mais novas. Isso é um grande problema, porque hoje vemos bebês de seis meses com um smartphone na mão, apenas brincando com o aparelho. É muito cedo para elas ficarem expostas a telas.

Sabemos que na China as telas são evitadas até os três anos de idade. Talvez possamos encontrar um meio-termo. Mas o problema é que a consequência desse uso excessivo será a miopia. Como já discutimos, há uma pandemia de miopia em crianças e adultos.

Sabemos, por exemplo, que em Singapura cerca de 90% dos jovens adultos são míopes. Isso é impressionante. Claro, não era assim há 20 anos. Então, é um problema realmente sério. E provavelmente as telas têm um papel nisso. Não são a única causa, mas são um fator importante. Por isso, devemos reduzir o tempo de tela, embora não seja fácil fazer isso hoje.

O segundo ponto são as telas 3D. Antes, nos preocupávamos com os filmes que usavam sistema 3D. Acho que hoje esse não é mais o maior problema. Mas esses sistemas 3D, presentes em tablets ou óculos, podem induzir insuficiência de vergência. A insuficiência de vergência é bastante comum, afetando cerca de 30% da população.

Essas telas 3D causam não apenas insuficiência de vergência, mas também cefaleia, visão dupla, por exemplo. Por isso, precisamos estar cientes desses problemas. É necessário fazer uma triagem da insuficiência de vergência e, talvez, realizar reeducação ortóptica antes de usar telas 3D. Provavelmente, devemos tentar evitar o uso excessivo dessas tecnologias, embora seja difícil.

Dr. Anton Titov: O que está por trás da insuficiência de vergência? Quando as pessoas usam óculos 3D, o que causa o problema? Elas olham para frente, mas há uma percepção artificial de profundidade no campo visual. Você poderia explicar melhor o que causa a insuficiência de vergência?

Dra. Dominique Bremond-Gignac: Sim, claro. O sistema de visualização 3D é baseado na dissociação entre vergência e acomodação. Ele sinaliza ao cérebro para criar essa dissociação, gerando uma impressão estereoscópica. Essa dissociação entre vergência e acomodação cria um sinal confuso, porque o cérebro não entende exatamente o que está acontecendo.

Se você já tem insuficiência de vergência, essa dissociação só piora o problema. Por exemplo, quando olho para o meu dedo e o aproximo, meus olhos convergem e focam simultaneamente. Com os óculos 3D, meus olhos continuam olhando para frente, mas percebo o objeto como se estivesse mais próximo. Meu cérebro recebe sinais dissociados.

Dr. Anton Titov: Exatamente. Esse é o ponto central.

Dra. Dominique Bremond-Gignac: Sim, você entendeu muito bem.

Dr. Anton Titov: Acho que veremos mais casos de insuficiência de vergência com o tempo, infelizmente.

Dra. Dominique Bremond-Gignac: Exatamente.

Dr. Anton Titov: Há uma conexão entre visão e postura em crianças em crescimento. E há um distúrbio ocular comum chamado insuficiência de vergência, que você já mencionou. Ele causa principalmente problemas visuais, mas também leva a sintomas gerais e posturais. Você pode resumir o que é a insuficiência de vergência, como reconhecê-la e quais são os melhores métodos de tratamento para crianças?

Dra. Dominique Bremond-Gignac: Sim, como discutimos, a insuficiência de vergência é um problema comum, mas muitas vezes subdiagnosticado. Em crianças, ela pode se manifestar como baixo desempenho escolar, cefaleias, tonturas e instabilidade. Muitas vezes, os pais não associam esses sintomas aos olhos.

Além disso, é difícil diagnosticar a insuficiência de vergência, pois não basta um exame ocular comum. É necessário um exame ortóptico completo do sistema ocular, incluindo a avaliação da motilidade ocular e a medição da refração com colírios cicloplégicos. Todos esses exames são essenciais para resolver o problema.

A postura também pode ser afetada pela insuficiência de vergência, pois as crianças compensam a instabilidade visual com ajustes posturais. É interessante notar que a insuficiência de vergência está associada a outras condições, como a dislexia. Crianças que já lutam com a leitura terão ainda mais dificuldade se também enfrentarem fadiga ocular, cefaleia e visão dupla. Por isso, é muito importante identificar e tratar a insuficiência de vergência.

Resumindo, precisamos de um exame ocular completo, exame ortóptico e refração sob cicloplegia.

Dr. Anton Titov: Obrigado. É muito importante saber que, para um diagnóstico correto, todos os testes devem ser realizados.

Dra. Dominique Bremond-Gignac: Exatamente.