Gravidez e obesidade extrema

Gravidez e obesidade extrema

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O renomado especialista em medicina materno-fetal, Dr. Marc Dommergues, detalha as estratégias médicas e logísticas essenciais para o acompanhamento de gestações de alto risco em casos de obesidade extrema. Ele ressalta a necessidade de vias de cuidado especializadas, a indução do parto precocemente, às 39 semanas, para gestantes com IMC (índice de massa corporal) superior a 40, e o manejo abrangente de vitaminas em pacientes com histórico de cirurgia bariátrica, visando assegurar o nascimento de um bebê saudável.

Gravidez e obesidade extrema
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Tratamento da Gravidez de Alto Risco com Obesidade Extrema para um Parto Saudável

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Acolhimento de Gestantes com Obesidade

O Dr. Marc Dommergues enfatiza que o primeiro princípio no cuidado obstétrico para obesidade extrema é acolher as pacientes sem preconceito. Ele observa que um problema significativo relatado por pessoas com obesidade é se sentirem julgadas ou consideradas um fardo pelos profissionais de saúde devido aos desafios técnicos que sua condição apresenta, como uma parede abdominal espessa ou dificuldades na aplicação de anestesia peridural. Essa postura de acolhimento é fundamental para estabelecer confiança e um cuidado eficaz desde o início da gravidez.

Riscos Médicos: IMC e Complicações

O risco médico na gravidez está diretamente relacionado ao Índice de Massa Corporal (IMC). O Dr. Marc Dommergues explica que um IMC acima de 40 aumenta significativamente o risco de diversas complicações obstétricas, como diabetes gestacional, hipertensão (pré-eclâmpsia), problemas respiratórios e riscos relacionados à anestesia durante o parto. Todas as complicações obstétricas são mais frequentes nessa população, exigindo rastreamento e monitoramento rigorosos ao longo da gestação para mitigar esses riscos para a mãe e o bebê.

Estratégia de Indução Precoce do Parto

Para evitar complicações de forma proativa, o Dr. Marc Dommergues destaca uma estratégia-chave: induzir o parto precocemente. Dados acumulados sugerem que, para mulheres com IMC muito elevado, induzir o trabalho de parto com 39 semanas de gestação, em vez de aguardar o início espontâneo, pode ser benéfico. Essa abordagem planejada ajuda a realizar o parto antes que muitas das complicações graves associadas à obesidade extrema e à gravidez prolongada se manifestem, aumentando assim as chances de um desfecho saudável.

Adaptações na Cadeia Logística de Cuidados

Além do tratamento médico, o Dr. Marc Dommergues ressalta um componente logístico crítico do cuidado. Todo o ambiente físico de uma maternidade deve ser adaptado para acomodar gestantes com obesidade de forma segura e confortável. Isso inclui cadeiras reforçadas nas salas de espera, macas de exame e ultrassom mais largas e resistentes, equipamentos adequados na sala de parto e manguitos de pressão arterial de tamanho apropriado. Garantir que essa "cadeia logística" esteja em vigor evita situações profundamente angustiantes, como a recusa tardia de uma paciente porque a unidade não está preparada para atendê-la com segurança.

Cirurgia Bariátrica e Terapia Vitaminica

Um ponto crucial para mulheres com histórico de obesidade extrema é o tratamento de cirurgia bariátrica prévia. O Dr. Dommergues orienta que pacientes submetidas a cirurgia para obesidade devem informar seu obstetra e médico nutrólogo. Esses procedimentos frequentemente resultam em má absorção, aumentando o risco de deficiências graves de vitaminas e nutrientes durante a gravidez. A suplementação vitamínica contínua é essencial antes e durante toda a gestação para apoiar o desenvolvimento fetal e a saúde materna, sendo necessário monitorar e ajustar os níveis com cuidado.

Equipe Especializada da Maternidade

O cuidado eficaz requer uma equipe especializada. O Dr. Marc Dommergues enfatiza a importância de uma maternidade que atenda um volume suficiente de pacientes com IMC acima de 40. Isso garante que toda a equipe—incluindo obstetras, anestesiologistas, enfermeiros e auxiliares—seja treinada e experiente nos protocolos específicos para o cuidado de gestantes com obesidade. Essa expertise é vital para lidar com os desafios médicos e físicos únicos, desde o deslocamento seguro da paciente até a realização de uma cesariana, assegurando o melhor resultado possível para mãe e filho.

Transcrição Completa

Dr. Anton Titov: Dr. Marc Dommergues, já discutimos várias condições na gravidez. Uma delas é a obesidade, que é comum em todo o mundo e está aumentando. Quais são as nuances do tratamento da gravidez quando a mulher é obesa?

Dr. Marc Dommergues: Não tenho certeza se estas são respostas verdadeiramente novas, pelo menos do ponto de vista francês. Não estamos tão acostumados com a obesidade quanto nos Estados Unidos. O mais importante é acolher as pessoas com obesidade. Não considerá-las culpadas por causarem transtornos aos médicos devido à parede abdominal espessa, que dificulta a cesariana, ou à aplicação da anestesia peridural, por exemplo.

Não sei como é em outros países, mas esse é um problema que pessoas com obesidade relatam. Elas percebem essas atitudes, pelo menos em nosso país. Provavelmente, isso está relacionado à organização do cuidado para gestantes com obesidade, especialmente em locais onde a obesidade não é tão comum.

Dr. Anton Titov: Existem dois níveis de cuidado na gravidez com obesidade que podem ser considerados de forma esquemática. O primeiro é o risco médico, relacionado ao IMC da paciente. Ela corre risco de complicações como problemas respiratórios, diabetes, etc. Com IMC acima de 40, por exemplo, há aumento do risco anestésico, complicações no parto, diabetes gestacional e hipertensão.

Dr. Marc Dommergues: Sabemos que todas as complicações obstétricas são mais comuns em gestantes com obesidade. Uma das possíveis respostas é rastrear o risco de complicações. Além disso, é possível induzir o parto precocemente, por exemplo, com 39 semanas, antes que essas complicações se manifestem.

Dr. Anton Titov: Há dados recentes que mostram que, com IMC muito alto, induzir o trabalho de parto um pouco antes do que em mulheres com peso normal pode ser útil para evitar complicações.

Dr. Marc Dommergues: Claro, acolher gestantes com obesidade é muito importante. É necessário ter uma maternidade com número suficiente de gestantes com IMC acima de 40 para que toda a equipe seja treinada no cuidado dessas pacientes. Isso inclui obstetras, anestesiologistas, enfermeiros e até quem auxilia no transporte da paciente.

Falando em transporte, o IMC ajuda a determinar o nível geral de risco médico, mas há também um risco logístico na obesidade, relacionado ao peso da paciente. Isso precisa ser considerado, especialmente em países onde não estamos acostumados com pessoas muito acima do peso.

Toda a cadeia logística de cuidado deve ser adaptada para gestantes com obesidade. Isso inclui cadeiras na sala de espera, macas de exame, maca de ultrassom, maca do parto, manguitos para medir pressão arterial, etc. Não queremos nos deparar com problemas de equipamento em momentos críticos do cuidado.

Dr. Anton Titov: Então, a parte logística do cuidado a gestantes com obesidade é muito importante. É essencial planejar com antecedência para evitar situações dolorosas, como informar a uma gestante de sete meses que ela não pode ser atendida devido ao peso. Isso é angustiante para as pacientes.

Portanto, se houver triagem, quanto mais cedo for feita, melhor. Encaminhar imediatamente as gestantes com obesidade para um hospital preparado facilita muito as coisas. Esse é um ponto crucial.

Dr. Marc Dommergues: Tenho mais um alerta sobre obesidade para as mulheres lembrarem. Você foi obesa no passado? Fez cirurgia bariátrica? Muitas vezes, ao engravidar, esquece-se que fez a cirurgia há anos. Mas há riscos maiores se você fez cirurgia para obesidade e engravida.

É necessária terapia vitamínica, que deve ser mantida ou reiniciada durante a gravidez. Se você fez cirurgia bariátrica e planeja engravidar, informe seu médico nutrólogo.

Dr. Anton Titov: Para que ele possa verificar seus níveis de vitaminas e necessidades nutricionais antes de iniciar a gestação. A obesidade é um problema significativo e crescente globalmente. É interessante estarmos em Paris, onde a obesidade é menos comum. Do ponto de vista clínico, o que a França está fazendo certo? Por que há menos obesidade aqui?

Dr. Marc Dommergues: Não tenho certeza, pois não sou especialista em nutrição. Sendo francês, diria que provavelmente comemos melhor. Mas a situação está piorando. Uma das razões é que as pessoas estão ficando mais pobres e recorrem a alimentos com alta densidade energética. Esse é um problema maior, relacionado ao aumento da pobreza na França atualmente.