Mieloma Múltiplo 
 Critérios de estratificação de risco para selecionar o tratamento mais adequado a cada paciente.

Mieloma Múltiplo Critérios de estratificação de risco para selecionar o tratamento mais adequado a cada paciente.

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O renomado especialista em mieloma múltiplo, Dr. Nikhil Munshi, explica como a estratificação de risco orienta a escolha do tratamento. Ele detalha a evolução dos critérios, desde o sistema Durie-Salmon até o perfil citogenético e molecular moderno. O Dr. Munshi aborda características-chave de alto risco, como translocações cromossômicas específicas e amplificação do 1q. O Sistema de Estadiamento Internacional Revisado (R-ISS) combina dados citogenéticos com exames de sangue de rotina para ampla aplicabilidade global. Novas tecnologias, como o sequenciamento completo do genoma, estão surgindo para permitir uma avaliação de risco ainda mais precisa. Essa estratificação viabiliza terapias personalizadas e mais intensivas para pacientes de alto risco.

Estratificação de Risco e Seleção de Tratamento no Mieloma Múltiplo

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Evolução da Estratificação de Risco

A estratificação de risco no mieloma múltiplo evoluiu significativamente ao longo do tempo. Segundo o Dr. Nikhil Munshi, a área dependia inicialmente do sistema Durie-Salmon. A introdução de novos quimioterápicos e do transplante alterou as prioridades de avaliação de risco. Nesse período, a deleção do cromossomo 13 tornou-se um marcador crítico. Avanços recentes no tratamento permitiram identificar novas características genômicas que determinam o risco do paciente com maior precisão.

Critérios Citogenéticos de Risco Atuais

Atualmente, a estratificação de risco no mieloma múltiplo concentra-se em anormalidades cromossômicas específicas. O Dr. Nikhil Munshi aponta translocações envolvendo o cromossomo 14 com os cromossomos 4, 16 ou 20 como indicadores de alto risco. A amplificação do cromossomo 1q também emergiu como outro marcador relevante de alto risco. Pesquisas investigam outros fatores potenciais, como a deleção do 1p. Essas anormalidades citogenéticas ajudam os oncologistas a identificar pacientes com doença mais agressiva.

Sistema de Estadiamento ISS

O Sistema de Estadiamento Internacional (ISS) oferece uma ferramenta de avaliação de risco acessível globalmente. Conforme destaca o Dr. Nikhil Munshi, o estadiamento ISS requer apenas dois exames sanguíneos simples: dosagem de albumina sérica e beta-2 microglobulina sérica. Os estágios ISS 1 e 2 indicam mieloma múltiplo com melhor prognóstico. Já o estágio ISS 3 identifica pacientes com doença mais agressiva, que demandam estratégias de tratamento intensivas.

Estadiamento ISS Revisado

O Sistema de Estadiamento Internacional Revisado (R-ISS) combina dados citogenéticos e laboratoriais. O Dr. Nikhil Munshi explica que o R-ISS integra o estadiamento ISS com fatores de risco citogenéticos, criando um modelo prognóstico mais preciso. Pacientes no estágio R-ISS 3 têm desfechos significativamente piores, mesmo com terapias modernas. Este sistema representa o padrão atual para estratificação de risco no mieloma múltiplo em todo o mundo.

Tecnologias Genômicas Emergentes

Tecnologias genômicas avançadas estão revolucionando a avaliação de risco no mieloma múltiplo. O Dr. Nikhil Munshi ressalta que o sequenciamento do genoma completo tornou-se mais rápido e acessível. O que antes levava semanas e custava milhares de dólares agora é realizado em dias, com custo reduzido. Pesquisadores investigam a carga mutacional e a heterogeneidade clonal como indicadores prognósticos. Doenças mais heterogêneas parecem correlacionar-se com pior prognóstico no mieloma múltiplo.

Implicações do Risco no Tratamento

A estratificação de risco orienta diretamente as decisões terapêuticas no mieloma múltiplo. Conforme explica o Dr. Nikhil Munshi, pacientes de alto risco recebem abordagens mais agressivas. A intensidade e a duração do tratamento são personalizadas conforme os perfis de risco individuais. Novos agentes, como o bortezomibe, melhoraram os desfechos em certos grupos de alto risco. Pacientes de risco padrão podem receber regimes menos intensivos, para minimizar a toxicidade sem comprometer a eficácia.

Transcrição Completa

Dr. Nikhil Munshi: A medicina de precisão nos ensina que cada paciente com câncer é único, e o mieloma múltiplo é uma doença heterogênea. A correta estratificação de risco de cada paciente com mieloma múltiplo é crucial para selecionar a melhor terapia e obter o melhor prognóstico possível.

Dr. Anton Titov: Quais são os principais riscos, critérios de estratificação e desafios no mieloma múltiplo?

Dr. Nikhil Munshi: É uma questão complexa, mas importante. Os critérios de estratificação de risco existem há muito tempo; costumávamos usar o sistema Durie-Salmon. Com o tempo, com o surgimento de novos tratamentos—naquela época, novos quimioterápicos—começamos a usar transplante. Então o sistema Durie-Salmon perdeu relevância em comparação, por exemplo, com a deleção do cromossomo 13.

Com os novos medicamentos, surgiram novas características que determinam a estratificação de risco. Atualmente, por exemplo, consideramos pacientes com translocações envolvendo o cromossomo 14 com os cromossomos 4, 16 ou 20. Mais recentemente, a amplificação do cromossomo 1q também se tornou importante.

Há outras características em estudo, como a deleção do 1p, que continuamos a investigar. O que acontece na estratificação de risco é que, à medida que identificamos fatores de risco, desenvolvemos novos medicamentos que atuam melhor nessas doenças de maior risco. Assim, algumas características perdem importância, enquanto outras emergem.

Por exemplo, o mieloma t(4;14) era considerado de muito alto risco. Agora, com medicamentos como o bortezomibe, conseguimos mitigar parcialmente o risco associado a essa translocação. Ainda é um grupo de alto risco, mas esses pacientes evoluem melhor do que antes.

Por outro lado, a amplificação do 1q tornou-se mais proeminente. Essa estratificação é feita analisando o conteúdo cromossômico—um dos métodos. Outra abordagem é o sistema de estadiamento ISS, que pode ser aplicado globalmente com tecnologia mínima, medindo albumina sérica e beta-2 microglobulina sérica no sangue.

Dois exames laboratoriais simples indicam se o paciente está no estágio ISS 1 ou 2 (melhor prognóstico) ou no estágio 3 (doença mais agressiva). Combinamos o estadiamento ISS com dados citogenéticos no chamado ISS revisado. Pacientes no estágio 3 não evoluem tão bem.

Isso é o padrão hoje; é o que todos usamos. Periodicamente, revisamos esses critérios para incorporar novos avanços. Com tecnologias mais modernas, temos condições de realizar sequenciamento do genoma completo.

Para contextualizar: há 10–15 anos, o sequenciamento levava semanas ou meses e custava milhares de dólares. Hoje, fazemos o sequenciamento do genoma completo em menos de uma semana, às vezes em três dias; os resultados ficam disponíveis rapidamente e a um custo muito menor.

Esses avanços começam a chegar à prática clínica. Ainda é pesquisa, mas já utilizamos parâmetros como o número de mutações. Outro aspecto importante é a heterogeneidade clonal—quanto mais heterogênea a doença, pior parece ser o prognóstico.

Estamos começando a definir esses parâmetros genômicos para reestratificar os pacientes. Para pacientes de alto risco, podemos adotar condutas mais agressivas, com tratamento mais intenso e prolongado. Por outro lado, para pacientes de risco padrão ou baixo risco, usamos abordagens mais conservadoras.