O renomado cirurgião cardíaco Dr. Tsuyoshi Kaneko analisa a decisão crucial entre válvulas cardíacas mecânicas e biológicas para substituição das válvulas aórtica ou mitral. Ele detalha a durabilidade de longo prazo das válvulas mecânicas em contraste com a vantagem das biológicas, que dispensam a anticoagulação. Além disso, discute como as tendências atuais e a disponibilidade de procedimentos TAVR (substituição valvar aórtica transcateter) estão influenciando as preferências dos pacientes e as diretrizes cirúrgicas.
Escolha Entre Válvulas Cardíacas Mecânicas e Biológicas: Um Guia para o Paciente
Navegar pelas Seções
- Válvulas Mecânicas vs. Biológicas
- Vantagens e Durabilidade da Válvula Mecânica
- A Desvantagem do Uso da Varfarina (Coumadina)
- Duração e Fatores que Influenciam a Válvula Biológica
- Mudanças nas Diretrizes e a Preferência do Paciente
- Como o TAVR Influencia a Escolha da Válvula
- Como Tomar uma Decisão Informada
Válvulas Mecânicas vs. Biológicas
A cirurgia de substituição valvar cardíaca oferece duas opções principais. Conforme explica o Dr. Tsuyoshi Kaneko, a escolha se resume a uma válvula mecânica ou biológica. A válvula mecânica é uma prótese artificial feita de materiais de carbono extremamente duráveis. Já a válvula biológica, também chamada de bioprótese, é fabricada a partir de tecidos biológicos, geralmente da válvula aórtica suína ou do pericárdio bovino.
Vantagens e Durabilidade da Válvula Mecânica
A principal vantagem da válvula mecânica é sua excepcional durabilidade. O Dr. Tsuyoshi Kaneko ressalta que essas válvulas são projetadas para durar a vida toda. A necessidade de remoção (explantação) é muito rara, ocorrendo apenas em casos de trombose valvar — quando um coágulo impede o movimento da válvula — ou infecção da prótese. As taxas dessas complicações graves são extremamente baixas, tornando a válvula mecânica uma solução confiável e duradoura para substituição valvar aórtica ou mitral.
A Desvantagem do Uso da Varfarina (Coumadina)
A contrapartida da durabilidade da válvula mecânica é a necessidade de terapia anticoagulante vitalícia. O Dr. Tsuyoshi Kaneko observa que os pacientes devem comprometer-se a usar varfarina, conhecida como Cumadina. Esse medicamento, porém, não é isento de riscos — o principal deles é o sangramento. A obrigação de tomar o remédio diariamente e fazer monitoramento frequente dos níveis de coagulação no sangue é um fator decisivo para muitos. O potencial de eventos hemorrágicos graves deve ser sempre considerado.
Duração e Fatores que Influenciam a Válvula Biológica
As válvulas biológicas dispensam a anticoagulação de longo prazo, o que é sua maior vantagem. No entanto, como explica o Dr. Tsuyoshi Kaneko, a desvantagem é que elas se desgastam com o tempo. A duração de uma válvula biológica não é fixa e varia muito entre os pacientes. Um fator determinante é a idade e o nível de atividade no momento do implante. Em pacientes jovens e ativos, a válvula abre e fecha com mais frequência, levando a um desgaste mais acelerado — uma válvula de porco ou boi pode durar menos de dez anos. Por outro lado, em um paciente sedentário de 75 anos, a mesma válvula pode funcionar bem por 15 anos ou mais.
Mudanças nas Diretrizes e a Preferência do Paciente
As diretrizes cirúrgicas costumavam ser baseadas principalmente na idade. O Dr. Tsuyoshi Kaneko afirma que, antigamente, pacientes com até 65 anos geralmente recebiam válvulas mecânicas, enquanto os acima dessa idade recebiam biológicas. Essa tendência, porém, está mudando radicalmente. Hoje, a recomendação mais forte das principais associações de cardiologia é que a preferência do paciente prevaleça. Após serem devidamente informados sobre os riscos e benefícios de cada tipo, os pacientes podem escolher a prótese que melhor se adapte ao seu estilo de vida e valores.
Como o TAVR Influencia a Escolha da Válvula
Um dos motivos para essa mudança é o surgimento do implante de válvula aórtica transcateter (TAVR ou TAVI). O Dr. Tsuyoshi Kaneko destaca que essa tecnologia reduz a resistência em optar por uma válvula biológica. Se uma válvula biológica implantada cirurgicamente falhar no futuro, muitas vezes é possível colocar uma nova válvula dentro da antiga por meio do TAVR. Essa técnica "válvula-dentro-da-válvula" frequentemente elimina a necessidade de uma segunda cirurgia cardíaca aberta, tornando a duração limitada da válvula biológica uma perspectiva menos assustadora — especialmente para pacientes jovens e ativos que desejam evitar a varfarina.
Como Tomar uma Decisão Informada
A escolha entre uma válvula mecânica e uma biológica é profundamente pessoal. Como conclui o Dr. Tsuyoshi Kaneko, o papel do médico é fornecer todas as informações essenciais sobre durabilidade, anticoagulação e opções futuras. Cabe então ao paciente, em conjunto com sua equipe médica e familiares, tomar a decisão final com base em uma compreensão completa de como cada tipo de substituição valvar afetará sua saúde e qualidade de vida a longo prazo.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov, MD: As opções de tratamento para válvulas cardíacas estão se multiplicando. Há próteses biológicas para as válvulas mitral e aórtica, válvulas com e sem suporte (stented e stentless), além da cirurgia cardíaca aberta e do implante valvar transcateter.
Como escolher o tipo certo de cirurgia cardíaca? Como selecionar a válvula ideal para cada paciente?
Quais são os benefícios e riscos de cada tipo de cirurgia valvar? Como fazer a escolha correta?
Dr. Tsuyoshi Kaneko, MD: Existem muitas opções disponíveis atualmente para os pacientes. É uma pergunta muito relevante — e também bastante complexa.
Para começar, há dois tipos principais de válvulas cardíacas de substituição. Creio que essa seja a resposta central para a pergunta. Um tipo é a válvula mecânica, uma prótese artificial feita de carbono.
O outro tipo é a válvula biológica, fabricada a partir de válvula suína ou tecido pericárdico bovino.
A vantagem das válvulas mecânicas é sua longevidade. Elas são projetadas para durar muitos anos após o implante. Situações que exigem troca são muito raras.
Isso ocorre principalmente em casos de trombose valvar — quando a válvula para de funcionar devido a um coágulo — ou infecção da prótese. São as duas situações em que a válvula mecânica precisaria ser removida. Mas as taxas dessas complicações são muito baixas.
A desvantagem é a necessidade de anticoagulação contínua. Normalmente, com varfarina (Coumadina). O paciente deve comprometer-se a usar esse medicamento por toda a vida. Esse é o maior ônus de optar por uma válvula mecânica.
Claro, o risco da varfarina é o sangramento. Discutiremos isso mais adiante, mas é importante destacar que a varfarina não é um remédio simples. Longe disso.
Por outro lado, as válvulas biológicas — sejam mitral ou aórtica, de boi ou porco — eliminam a necessidade de anticoagulantes.
A desvantagem da válvula biológica é que ela se desgasta com o tempo. O prazo de duração varia muito.
Se implantada em um paciente jovem, a válvula abre e fecha com maior frequência devido à maior atividade física. Uma válvula biológica pode durar menos de dez anos.
Já em um paciente de 75 anos com vida sedentária, a mesma válvula pode funcionar bem por 15 anos ou mais. A durabilidade realmente depende do perfil do paciente.
Isso historicamente era um fator decisivo. Pacientes com até 65 anos geralmente recebiam válvulas mecânicas. Acima dessa idade, as biológicas eram mais indicadas. Mas essa tendência está mudando por vários motivos.
Dr. Anton Titov, MD: Um deles é o advento do TAVR/TAVI. Se uma válvula biológica se deteriorar, é possível fazer um TAVR depois. Isso evita uma nova cirurgia aberta. Reduz a resistência em escolher válvulas biológicas.
Além disso, os pacientes buscam estilos de vida ativos e preferem evitar anticoagulantes. Imagine uma pessoa de 55 anos que quer pedalar, fazer trilhas e se manter muito ativa.
Dr. Tsuyoshi Kaneko, MD: Esses pacientes não querem usar varfarina. Por isso, estão optando cada vez mais por válvulas biológicas.
A American Heart Association e o American College of Cardiology emitem diretrizes sobre a escolha valvar. Mas hoje a recomendação mais forte é respeitar a preferência do paciente.
Os pacientes escolhem a válvula — seja aórtica ou mitral — com base em todas as informações que recebem.
Dr. Anton Titov, MD: O médico deve fornecer as informações necessárias. No final, é o paciente quem decide entre uma válvula biológica ou mecânica para a cirurgia de substituição.