O renomado especialista em prevenção e tratamento do câncer de mama, Dr. Jack Cuzick, MD, aborda as evoluções na terapia para o Carcinoma Ductal In Situ (CDIS). Ele destaca que muitas pacientes podem prescindir da radioterapia e que a terapia endócrina com tamoxifeno ou inibidores da aromatase, como letrozol e anastrozol, pode reduzir significativamente a recorrência e prevenir novos cânceres na mama contralateral, especialmente em casos de CDIS com receptor de estrogênio positivo. Paralelamente, ressalta a relevância de margens cirúrgicas livres e o possível papel do status de HER2 em futuras decisões terapêuticas.
Otimização do Tratamento do CDIS: Da Cirurgia à Terapia Endócrina e Além
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- Abordagens Atuais de Tratamento do CDIS
- O Papel da Cirurgia no CDIS
- Desafios na Decisão pela Radioterapia
- Terapia Endócrina para Prevenção de Recidiva
- Tamoxifeno e Inibidores da Aromatase: Evidências Clínicas
- Seleção de Pacientes e Tolerabilidade da Terapia Hormonal
- A Importância dos Testes de Biomarcadores no CDIS
- Direções Futuras no Tratamento do CDIS
Abordagens Atuais de Tratamento do CDIS
O Carcinoma Ductal In Situ (CDIS) é a forma mais precoce e não invasiva do câncer de mama, restrita aos ductos mamários. Segundo o Dr. Jack Cuzick, MD, o tratamento desse tipo de câncer de mama localizado é "bastante complexo". A abordagem padrão para a maioria das mulheres inclui a terapia conservadora da mama, que combina cirurgia e radioterapia. Essa estratégia visa eliminar as células anormais enquanto preserva a mama.
Apesar desses tratamentos, uma minoria das pacientes apresenta recidiva. No entanto, o Dr. Jack Cuzick, MD, ressalta um ponto crucial: a grande maioria das mulheres diagnosticadas com CDIS nunca tem recidiva. Esse fato tem gerado debates significativos na comunidade oncológica sobre a possibilidade de os protocolos atuais serem excessivos para muitas pacientes, motivando a busca por estratégias mais personalizadas e menos intensivas.
O Papel da Cirurgia no CDIS
A cirurgia continua sendo um pilar fundamental no tratamento do CDIS. O Dr. Jack Cuzick, MD, declara que, em sua opinião, a lumpectomia para remoção do tumor é "provavelmente muito eficaz". As técnicas cirúrgicas evoluíram consideravelmente na última década, resultando em melhores desfechos para as pacientes.
Um fator-chave nessa melhoria é a maior atenção que os cirurgiões dedicam à obtenção de margens cirúrgicas livres, ou seja, garantir que nenhuma célula cancerosa esteja presente nas bordas do tecido removido. O Dr. Jack Cuzick, MD, observa que esse cuidado teve um "impacto significativo", contribuindo para as taxas muito baixas de recidiva local observadas atualmente no CDIS.
Desafios na Decisão pela Radioterapia
Uma das questões mais urgentes no manejo do CDIS é identificar quais pacientes realmente se beneficiam da radioterapia. O Dr. Jack Cuzick, MD, considera isso um "grande desafio", sugerindo que atualmente muitas mulheres recebem esse tratamento desnecessariamente. Ele cita taxas de uso de quase 100% nos Estados Unidos e mais de 70% no Reino Unido.
O Dr. Cuzick argumenta que "provavelmente muitas dessas mulheres não precisam de radioterapia". O principal desafio para os oncologistas é desenvolver ferramentas e critérios mais precisos para identificar o subgrupo de pacientes com CDIS que têm risco suficiente de recidiva para justificar os efeitos colaterais e custos da radioterapia, poupando assim as pacientes de baixo risco de um tratamento desnecessário.
Terapia Endócrina para Prevenção de Recidiva
Além da cirurgia e radioterapia, a terapia endócrina (hormonal) desempenha um papel crucial no tratamento do CDIS e na prevenção de novos cânceres. O Dr. Jack Cuzick, MD, tem vasta experiência em pesquisa nessa área, tanto para cânceres invasivos quanto na prevenção. Medicamentos como tamoxifeno e inibidores da aromatase (letrozol, anastrozol) podem reduzir significativamente as taxas de recidiva.
O Dr. Jack Cuzick, MD, explica que o benefício desses medicamentos vai além de prevenir a recidiva na mesma mama. Para a maioria das mulheres com CDIS, que têm alto risco de desenvolver tumores na mama contralateral, a terapia endócrina atua como medida preventiva para cânceres de mama totalmente novos, tornando-se uma ferramenta poderosa no cuidado integral.
Tamoxifeno e Inibidores da Aromatase: Evidências Clínicas
A eficácia da terapia endócrina é respaldada por dados de ensaios clínicos. O Dr. Jack Cuzick, MD, cita dois grandes estudos sobre o uso de tamoxifeno no CDIS. O primeiro ensaio demonstrou benefício claro, reduzindo o risco de recidiva local e de tumores contralaterais (na mama oposta).
O próprio ensaio clínico do Dr. Cuzick apresentou resultados mais nuances. Embora não tenha mostrado um efeito forte na prevenção da recidiva local de CDIS, confirmou que o tamoxifeno tem impacto significativo na prevenção de novos tumores na mama contralateral. Isso solidifica o papel desses medicamentos como estratégia preventiva, mesmo que seu efeito na recidiva local possa variar.
Seleção de Pacientes e Tolerabilidade da Terapia Hormonal
A decisão de prescrever terapia endócrina não é automática e requer uma consulta cuidadosa com a paciente. O Dr. Jack Cuzick, MD, reconhece que algumas mulheres experimentam efeitos colaterais com tamoxifeno e outras medicações hormonais, o que pode dificultar a tolerância.
Para pacientes que enfrentam dificuldades com esses efeitos, o Dr. Jack Cuzick, MD, afirma que "não é irracional evitar a terapia hormonal para CDIS". Isso destaca a importância de uma decisão compartilhada entre a paciente e seu oncologista, equilibrando os benefícios potenciais de redução de risco com o impacto na qualidade de vida.
A Importância dos Testes de Biomarcadores no CDIS
O uso eficaz da terapia endócrina depende totalmente das características biológicas do CDIS. O Dr. Jack Cuzick, MD, é enfático ao afirmar que esses tratamentos são "quase certamente apropriados apenas para CDIS receptor de estrogênio positivo". Isso significa que as células cancerosas devem ter receptores que utilizam estrogênio para crescer.
Ele aponta uma questão histórica: até recentemente, em muitos lugares, o status do receptor hormonal não era rotineiramente avaliado em amostras de CDIS. Além disso, outros biomarcadores são importantes; por exemplo, o Dr. Jack Cuzick, MD, observa que 40% dos tumores de CDIS são HER2 positivos. Testar esses marcadores é crítico para determinar o plano de tratamento mais eficaz e personalizado, além de definir a intensidade terapêutica necessária.
Direções Futuras no Tratamento do CDIS
O tratamento do Carcinoma Ductal In Situ está evoluindo para uma abordagem mais personalizada. A entrevista com o Dr. Jack Cuzick, MD, conduzida pelo Dr. Anton Titov, MD, destaca que quase todos os aspectos da terapia do CDIS estão sendo questionados e refinados. O objetivo é abandonar o modelo único para todos.
O progresso futuro dependerá de pesquisas robustas em biomarcadores para estratificar melhor o risco, do desenvolvimento de ferramentas de decisão para orientar o uso da radioterapia e da educação contínua das pacientes sobre os benefícios e a tolerabilidade da terapia endócrina preventiva. Essa abordagem personalizada garante que as pacientes recebam o tratamento mais eficaz, minimizando intervenções desnecessárias e efeitos colaterais.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov, MD: Vamos começar com o câncer de mama. O Carcinoma Ductal In Situ, CDIS, é a forma mais precoce e localizada do câncer de mama. Mas a tomada de decisão sobre o tratamento é crucial.
Dr. Anton Titov, MD: Como tratar da melhor forma o câncer de mama localizado?
Dr. Jack Cuzick, MD: É bastante complexo. A maioria das mulheres com CDIS faz terapia conservadora da mama local e radioterapia. Uma minoria apresenta recidiva apesar desses tratamentos. Mas a vasta maioria das pacientes com CDIS nunca recidiva. Portanto, o tratamento do CDIS pode ser excessivo.
Dr. Anton Titov, MD: O senhor realizou trabalhos importantes na tomada de decisão de tratamento no CDIS. O que poderia contar sobre seu trabalho? Quais resultados o senhor obteve na terapia do CDIS?
Dr. Jack Cuzick, MD: É verdade que o tratamento do CDIS é um grande desafio. Quase todos os aspectos da terapia estão sendo questionados atualmente. Alguns chegam a questionar se a cirurgia é sempre necessária.
Minha opinião pessoal é que a lumpectomia para remover o tumor é provavelmente muito eficaz. A cirurgia para CDIS melhorou na última década. Os cirurgiões dedicam muito mais atenção à obtenção de margens cirúrgicas livres. Isso teve um impacto significativo na taxa muito baixa de recidiva local. Vemos pouquíssima recidiva com CDIS.
Um dos maiores desafios é definir quem precisa de radioterapia. Atualmente, provavelmente há mulheres demais recebendo radioterapia para CDIS. A taxa é quase 100% nos Estados Unidos e mais de 70% no Reino Unido. Muitas delas provavelmente não precisam. Nosso desafio é identificar quem realmente se beneficia.
Nosso trabalho tem focado na terapia endócrina para CDIS. Realizamos pesquisas tanto para cânceres invasivos quanto na prevenção. Fazemos ensaios clínicos com tamoxifeno ou inibidores da aromatase, como letrozol ou anastrozol. Eles podem reduzir significativamente as taxas de recidiva no CDIS.
Os efeitos do tamoxifeno são reais. Dois ensaios clínicos examinaram seus efeitos no CDIS. Um mostrou benefício claro em tumores locais e contralaterais. Em nosso próprio ensaio, os resultados não foram tão positivos para recidiva local de CDIS, mas mostraram efeito em tumores contralaterais.
Portanto, a radioterapia ainda é uma opção. Mas para mulheres que toleram bem a terapia endócrina, inibidores da aromatase e tamoxifeno previnem recidivas. Essa é a maioria das mulheres com CDIS. Elas têm alto risco de novos tumores na mama oposta. Assim, não se trata apenas de prevenir recidivas, mas também de evitar novos cânceres de mama.
Os efeitos na prevenção do CDIS não são tão marcantes quanto no câncer invasivo. Algumas mulheres têm efeitos colaterais com a terapia hormonal. Para essas pacientes, não é irracional evitar a terapia hormonal para CDIS.
Inibidores da aromatase e tamoxifeno são quase certamente apropriados apenas para CDIS receptor de estrogênio positivo. Até recentemente, em muitos lugares, o status do receptor no CDIS não era rotineiramente medido. Há várias questões envolvidas.
Outras questões relacionam-se a outros marcadores. 40% dos tumores de CDIS são HER2 positivos. Isso também pode ser importante para determinar a intensidade da terapia hormonal.