O renomado especialista em medicina materno-fetal, Dr. Marc Dommergues, explica como doenças crônicas maternas afetam os resultados da gestação, detalhando os riscos associados a complicações obstétricas, transmissão da doença e desafios da parentalidade. Ele ressalta, ainda, a importância fundamental do planejamento pré-concepcional e do acompanhamento médico para proteger tanto a mãe quanto o bebê.
Doença Crônica e Gravidez: Gerenciando os Riscos para a Mãe e o Bebê
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- Complicações Obstétricas Decorrentes de Doenças Maternas
- Complicações Maternas Agudas e Parto Prematuro
- Transmissão da Doença para o Bebê
- Doenças Genéticas e Riscos de Herança
- Parentalidade com Deficiência Física
- Saúde Mental e Desafios Cognitivos na Parentalidade
- O Papel Crucial do Planejamento Pré-Gestacional
Complicações Obstétricas Decorrentes de Doenças Maternas
Doenças crônicas podem causar complicações obstétricas graves durante a gravidez. O Dr. Marc Dommergues, MD, explica que doenças autoimunes, como a síndrome do anticorpo antifosfolípide, estão fortemente associadas a desfechos adversos, incluindo pré-eclâmpsia, descolamento prematuro da placenta e recém-nascidos pequenos para a idade gestacional.
Essas complicações ocorrem porque as doenças maternas podem comprometer o desenvolvimento e a função da placenta. O tratamento adequado antes e durante a gestação é essencial para reduzir esses riscos.
Complicações Maternas Agudas e Parto Prematuro
Emergências médicas agudas na mãe podem levar à necessidade de parto prematuro, o que pode prejudicar o bebê. O Dr. Marc Dommergues, MD, comenta sobre um sentimento comum entre algumas gestantes, que afirmam estar "prontas para morrer pelo meu bebê". Ele ressalta que essa postura é contraproducente.
Quando a vida da mãe está em risco devido a condições como insuficiência cardíaca aguda, a equipe médica muitas vezes precisa induzir o parto ou realizar uma cesariana muito precoce. Essa intervenção, embora necessária para salvar a mãe, pode resultar em complicações neonatais significativas devido à prematuridade extrema.
Transmissão da Doença para o Bebê
Doenças maternas podem ser transmitidas ao bebê por diferentes mecanismos, exigindo manejo cuidadoso. Doenças infecciosas, como o HIV, podem ser passadas da mãe para o filho se a carga viral não estiver controlada. Felizmente, a terapia antirretroviral moderna reduziu drasticamente esse risco.
A transmissão por anticorpos é outra via, observada em condições como miastenia gravis ou distúrbios da tireoide. Nesses casos, os anticorpos maternos atravessam a placenta e podem afetar o recém-nascido, embora os efeitos sejam geralmente temporários.
Doenças Genéticas e Riscos de Herança
Doenças genéticas apresentam desafios específicos na gravidez devido aos padrões de herança e à expressão variável. O Dr. Marc Dommergues, MD, cita a síndrome de Marfan como exemplo—uma condição autossômica dominante com risco de 50% de transmissão para a prole.
Ele explica um conceito crucial: as doenças genéticas têm expressão variável. Um familiar com síndrome de Marfan pode falecer aos 30 anos, enquanto outro com a mesma mutação vive até os 80. Essa variabilidade torna o aconselhamento genético complexo, pois carregar um gene da doença não determina um desfecho específico.
Parentalidade com Deficiência Física
Deficiências físicas exigem atenção especial para os desafios práticos da parentalidade, que vão além da gestação. O Dr. Marc Dommergues, MD, observa que deficiências motoras graves levantam questões sobre como realizar cuidados infantis de rotina, como trocar e alimentar o bebê. No entanto, ele ressalta que a gravidade da deficiência não necessariamente prediz o sucesso como pai ou mãe.
A antecipação, por meio de treinamento e adaptações ambientais, pode solucionar muitos desses desafios. Curiosamente, o Dr. Marc Dommergues, MD, nota que as dificuldades parentais em pessoas com deficiência física frequentemente estão relacionadas a fatores sutis, além da própria limitação, e lembra que a parentalidade já é desafiadora mesmo sem deficiências.
Saúde Mental e Desafios Cognitivos na Parentalidade
Condições de saúde mental e deficiências cognitivas trazem considerações parentais particularmente complexas. Doenças mentais graves ou deficiência intelectual criam situações extremamente delicadas, difíceis de abordar antes da gravidez. Essas condições demandam sistemas de apoio especializados.
No entanto, o Dr. Marc Dommergues, MD, oferece esperança para mulheres com transtornos psiquiátricos tratáveis. Com organização e tratamento prévios adequados, os desfechos da gravidez podem ser muito positivos, destacando a importância do cuidado pré-gestacional em saúde mental.
O Papel Crucial do Planejamento Pré-Gestacional
O aconselhamento e planejamento pré-concepcionais surgem como o tema unificador para o manejo de doenças crônicas na gravidez. As reflexões do Dr. Dommergues durante a discussão com o Dr. Anton Titov, MD, reiteram consistentemente o valor da antecipação. Seja abordando riscos genéticos, limitações físicas ou preocupações com saúde mental, o planejamento avançado melhora dramaticamente os resultados.
Essa abordagem abrangente permite que as equipes de saúde abordem riscos de transmissão, implementem adaptações ambientais, otimizem regimes medicamentosos e estabeleçam redes de apoio muito antes da concepção. Essa estratégia proativa representa o padrão-ouro no cuidado de mulheres com condições crônicas que desejam engravidar.
Transcrição Completa
Dr. Marc Dommergues, MD: Algumas doenças médicas podem induzir complicações obstétricas. Isso é muito bem conhecido. Por exemplo, a síndrome do anticorpo antifosfolípide está associada a complicações como pré-eclâmpsia, recém-nascidos pequenos para a idade gestacional e descolamento prematuro da placenta.
Há também algo menos conhecido, ou que as gestantes não costumam considerar. Se houver uma complicação aguda na mãe, como insuficiência cardíaca, isso pode forçar os médicos a realizar um parto prematuro, o que pode prejudicar o bebê.
Algumas mães nos dizem: "Estou pronta para morrer pelo meu bebê". Digo a elas que não é uma boa ideia, porque, se durante a gravidez você estiver em risco de morte, teremos que induzir o parto ou fazer uma cesariana muito precoce. Isso pode, por sua vez, prejudicar o bebê.
Então, essa é a outra questão—complicações obstétricas relacionadas direta ou indiretamente à doença.
Depois, há a questão da transmissão da doença da mãe para o filho. Pode ocorrer por vias diferentes. Por exemplo, pode ser por infecção, se a mãe tem HIV e a carga viral não está controlada. Existe, então, o risco de transmitir o vírus para o bebê.
Claro, hoje o risco de transmissão do HIV de mãe para filho é facilmente controlado com antirretrovirais.
Outro exemplo: anticorpos podem ser transferidos da mãe para o bebê. Isso acontece em casos de miastenia gravis ou distúrbios da tireoide.
Há também o risco de transmissão genética. Se uma futura mãe tem síndrome de Marfan, que é hereditária, há 50% de chance de passar o gene para o bebê.
O problema com muitas doenças hereditárias de padrão autossômico dominante é que têm expressão variável. Uma pessoa afetada na família pode ter morrido aos 30, e outra pode morrer aos 80 com o mesmo gene da mesma doença.
Portanto, saber que você carrega o gene de uma doença não significa que algo específico vai acontecer com 100% de certeza. E isso é um desafio.
Há ainda uma questão delicada, que é a parentalidade. Uma doença pode interferir na parentalidade de diferentes formas. Por exemplo, se você tem uma deficiência motora severa, surge a pergunta: "Como vou conseguir cuidar de um bebê?" Isso inclui trocá-lo, alimentá-lo, etc.
Por isso, é muito importante antecipar essas situações, por meio de treinamento e adaptação do ambiente. Muito pode ser feito.
É curioso: nossa impressão é que as dificuldades parentais em pessoas com deficiência motora não estão diretamente ligadas à gravidade da limitação, mas provavelmente a outros problemas mais sutis. Criar um filho já é difícil mesmo sem deficiência.
Por fim, quando os pais têm deficiência intelectual. A parentalidade nesses casos é extremamente complicada e difícil de discutir previamente.
Quando há doença mental grave, a gravidez também pode ser um tema delicado para abordar antes. Por outro lado, se uma mulher tem um transtorno psiquiátrico tratável, tudo pode ser organizado com antecedência. Geralmente, o desfecho da gravidez é muito positivo.
Esse é o impacto da doença na gravidez.