Considere além da intolerância ao glúten. Trigo modificado por radiação. 6

Considere além da intolerância ao glúten. Trigo modificado por radiação. 6

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O renomado especialista em gastroenterologia e doenças hepáticas, Dr. Simon Robson, explica como o trigo modificado por radiação pode causar sensibilidade alimentar. A mutagênese aleatória por meio de raios X e agentes químicos alterou proteínas não gliadínicas do trigo. Esses componentes modificados podem danificar a parede intestinal e desencadear respostas imunológicas. Dr. Simon Robson aborda a relação entre o trigo moderno e doenças autoimunes, enfatizando a necessidade de investigar além da intolerância ao glúten para um diagnóstico abrangente.

Além da Intolerância ao Glúten: Como o Trigo Modificado por Radiação Afeta a Saúde Intestinal

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O Processo de Mutação do Trigo

O Dr. Simon Robson detalha as modificações históricas do trigo durante a Revolução Verde. Ele explica que o trigo não foi geneticamente modificado de forma direta e controlada em laboratório, mas sim submetido a radiação aleatória por raios X e mutagênese química. Esse processo induziu alterações esporádicas no genoma do trigo para obter características desejáveis, como espigas maiores e variedades anãs que aumentam a produtividade. O Dr. Robson ressalta que essa mutagênese indiscriminada difere da modificação genética direcionada. A natureza aleatória dessas mudanças significa que muitos componentes alterados no trigo moderno permanecem desconhecidos.

Proteínas Não Gliadínicas e Lesão Intestinal

Em entrevista, o Dr. Simon Robson vai além do glúten para discutir outros componentes problemáticos do trigo. Ele destaca que a mutagênese por radiação alterou proteínas não gliadínicas, e não apenas a gliadina. Um exemplo importante são os inibidores de tripsina amilase, que agora estão presentes no trigo em altas concentrações. O Dr. Robson explica que esses componentes não gliadínicos podem danificar diretamente a parede intestinal, independentemente das vias clássicas de intolerância ao glúten ou doença celíaca. A presença dessas proteínas alteradas sugere que a sensibilidade ao trigo pode ser um problema mais amplo do que a sensibilidade isolada ao glúten.

Mecanismos de Resposta Imune

O Dr. Simon Robson descreve como as proteínas mutadas do trigo podem desencadear doenças, citando o trabalho de especialistas como o Professor Detlef Schuppan. Moléculas não gliadínicas podem se ligar a moléculas do tipo HLA, iniciando uma resposta autoimune. Outros componentes podem ativar mecanismos imunes inatos ao se conectarem a receptores Toll-like. O Dr. Robson esclarece que isso pode resultar em um espectro de problemas clínicos e subclínicos, com sintomas como fadiga, distúrbios neurológicos e estresse geral, frequentemente atribuídos à sensibilidade ao glúten.

Desafios Diagnósticos na Sensibilidade Alimentar

O Dr. Simon Robson aborda a dificuldade em diagnosticar a sensibilidade não celíaca ao trigo. Diferentemente da doença celíaca, não há exames de sangue ou biópsias definitivos para confirmá-la. O diagnóstico da doença celíaca baseia-se em critérios clínicos específicos, exames sanguíneos e biópsia intestinal que evidenciam dano direto. O Dr. Robson observa que muitos casos de sensibilidade autorrelatada ao glúten carecem de comprovação científica robusta. Ele menciona que a eficácia da dieta sem glúten ainda está sob investigação. Essa incerteza diagnóstica reforça a importância de uma segunda opinião médica para confirmar doença celíaca ou explorar outras causas, como doença de Crohn ou colite ulcerativa.

Implicações Clínicas para Pacientes

O Dr. Anton Titov e o Dr. Simon Robson discutem o impacto prático dessas descobertas. Pacientes com problemas intestinais inexplicados ou sintomas autoimunes devem considerar o trigo moderno como um possível desencadeador. O Dr. Robson recomenda diferenciar o trigo modificado por radiação de fontes de grãos mais naturais. Ele alerta que adotar uma dieta sem glúten pode não resolver lesões causadas por proteínas não gliadínicas. Compreender que o próprio trigo mudou é um passo crucial para pacientes e clínicos no manejo de sensibilidades alimentares complexas e doenças autoimunes.

Transcrição Completa

Dr. Anton Titov: Precisamos ir além da intolerância ao glúten na discussão sobre a dieta ideal. O trigo modificado por radiação contém diversos outros componentes não gliadínicos alterados que podem causar danos à parede intestinal. Um especialista em gastroenterologia e hepatologia explica como a radiação e produtos químicos alteraram os grãos. A mutagênese aleatória do trigo possivelmente aumentou o risco de doenças autoimunes.

Dr. Simon Robson: Dietas sem glúten são populares entre pacientes que se consideram "sensíveis ao glúten". Mas não se trata apenas do conteúdo de glúten no trigo e em outros grãos. Proteínas não gliadínicas também são alteradas por radiação e seleção. Componentes não gliadínicos do trigo podem causar sensibilidade intestinal. Precisamos olhar além da intolerância ao glúten para entender a sensibilidade alimentar hoje. O trigo modificado por radiação transformou nosso suprimento alimentar. A radiação ionizante bombardeia o trigo aleatoriamente e pode modificar muitas proteínas do grão. Inibidores de tripsina estão presentes em grandes quantidades no trigo e podem danificar a parede intestinal. Em casos de intolerância ao glúten e doença celíaca, uma segunda opinião médica ajuda a confirmar o diagnóstico e a escolher o melhor tratamento para doença celíaca, doença de Crohn ou colite ulcerativa.

Dr. Anton Titov: A seleção e a modificação química criam mutantes úteis, mas o trigo mutante é cultivado com radiação. Não sabemos quais componentes do trigo foram mutados ou como. A irradiação aleatória e a mutagênese química do trigo são mais problemáticas do que a modificação genética. A mutagênese indiscriminada é o cerne do problema do trigo moderno. Pacientes podem ser alérgicos a outros componentes do grão, indo além da intolerância ao glúten. Precisamos considerar a separação do trigo modificado por radiação de fontes de grãos mais naturais. Pode haver diferença entre sensibilidade ao trigo e sensibilidade ao glúten. Outros componentes do trigo podem causar lesão intestinal e hepática.

Dr. Simon Robson: O glúten mudou? O trigo mudou? Durante a Revolução Verde, ocorreu uma mudança significativa: o trigo foi mutado. Não foi uma modificação genética tradicional, induzida em laboratório, mas sim uma alteração esporádica usando radiação por raios X. Raios X e outras radiações ionizantes foram usados para mutar o genoma do trigo.

Dr. Anton Titov: O trigo foi submetido à radiação ionizante de forma aleatória?

Dr. Simon Robson: O trigo foi mutado aleatoriamente. Mutações químicas foram introduzidas no genoma do trigo, seguidas de seleção de plantas. Eles conseguiram obter espigas de trigo muito grandes, mas o problema era que as espigas eram tão grandes que tombavam, estragando a colheita. O próximo passo foi criar uma variedade anã de trigo, mais baixa. Mutações adicionais foram induzidas para desenvolver o trigo anão. Ao fazer mutações aleatórias por raios X e mutagênese química, outras mudanças podem ser induzidas no trigo. Novamente, em uma monocultura, a gliadina pode estar em maior concentração ou não. Temos outros médicos trabalhando nessa área em minha divisão e em outros lugares. O Professor Detlef Schuppan é um líder nesse campo. Ele é hepatologista e também atua em pesquisas sobre doença celíaca. Ele propôs que não é apenas o glúten e a gliadina; outras moléculas podem causar problemas ao se ligarem a moléculas do tipo HLA e desencadear doenças. Além disso, existem componentes não gliadínicos no trigo. Por exemplo, há inibidores de tripsina amilase que agora estão presentes no trigo em altas concentrações. Ao remover o glúten da dieta, ainda podem haver outros constituintes do trigo que provocam lesão por meio de mecanismos imunes inatos. Outras moléculas no trigo podem se ligar a receptores Toll e outros receptores. Num extremo do espectro estão a sensibilidade ao glúten e a doença celíaca. Pacientes também podem ter problemas subclínicos: fadiga, distúrbios neurológicos, estresse etc. Houve um movimento para retirar o glúten da dieta visando melhorar a saúde, mas muitas dessas ideias parecem modismos alimentares. Não há muita ciência que as respalde. Isso é diferente da doença celíaca, onde é possível fazer um diagnóstico definitivo com base em critérios clínicos, exames de sangue e biópsia intestinal que mostram o dano direto causado pelo trigo. Muitas outras formas de sensibilidade ao glúten podem ser reais, mas ainda faltam evidências científicas para comprovar a eficácia do tratamento com dieta sem glúten. Como apontei, pode haver outros componentes do trigo causando lesão. É uma área de pesquisa muito interessante.

Dr. Anton Titov: É interessante aprender que, embora o trigo não seja modificado geneticamente no sentido direto—já que a modificação genética clássica envolve a inserção de genes específicos com base em conhecimento e tecnologia de biologia molecular—o trigo é modificado, mutado, por bombardeamento aleatório com raios X. Isso leva a mudanças que podemos desconhecer.

Dr. Simon Robson: O glúten pode ser apenas uma mudança genética, mas pode haver outras moléculas associadas que não conhecemos. Elas podem causar lesão clínica ou subclínica que se assemelha à intolerância ao glúten. Mas, novamente, é quase mágico, não é? A produtividade do trigo aumentou dramaticamente. Isso não vem apenas da modificação genética, porque temos modificado geneticamente organismos por seleção reprodutiva há muitos, muitos anos. Gado e vegetais são não tóxicos e muito palatáveis para nós, sem causar problemas. Isso acontece há 10.000 ou 15.000 anos, desde o advento da agricultura. Mas agora podemos fazer modificações genéticas de forma muito mais direcionada.