O renomado especialista em esclerose múltipla e gravidez, Dr. Marc Dommergues, MD, explica como tratar a EM durante a gestação para evitar complicações. Ele detalha a importância crucial de uma equipe multidisciplinar, as decisões complexas sobre a manutenção da medicação e o fato tranquilizador de que a própria gravidez frequentemente ameniza os sintomas da doença. Ressalta, ainda, que o período pós-parto exige monitoramento cuidadoso.
Tratamento da Esclerose Múltipla na Gravidez: Um Guia sobre Terapêutica e Segurança
Navegar pelas Seções
- Planejamento Pré-Gestacional na EM
- Medicamentos para EM e Segurança na Gravidez
- Impacto da Gravidez nos Sintomas da EM
- Abordagem Multidisciplinar no Cuidado
- Manejo Pós-Parto e Amamentação na EM
- Casos Clínicos: EM Grave na Gravidez
- Prognóstico Geral da EM na Gravidez
Planejamento Pré-Gestacional na EM
O primeiro passo para qualquer mulher com esclerose múltipla que planeje engravidar é uma discussão detalhada com um neurologista e um obstetra. O Dr. Marc Dommergues ressalta que o aconselhamento pré-gestacional é essencial para avaliar riscos individuais e elaborar um plano de tratamento personalizado. A complexidade desse planejamento depende muito do tipo e da gravidade da EM, variando de casos simples àqueles que exigem cuidados intensivos e coordenados.
Medicamentos para EM e Segurança na Gravidez
Um dos principais desafios no tratamento da EM durante a gravidez é o uso de terapias modificadoras da doença. O Dr. Marc Dommergues observa que, para muitos medicamentos, há dados limitados sobre seu impacto no feto em desenvolvimento. Isso frequentemente leva a decisões difíceis e individualizadas sobre a continuidade ou interrupção do tratamento. Ele explica que suspender a medicação pode, em alguns casos, agravar significativamente a esclerose múltipla, o que por si só representa um risco tanto para a mãe quanto para a gestação.
Impacto da Gravidez nos Sintomas da EM
Contrariando alguns temores, a gravidez geralmente exerce um efeito protetor sobre a esclerose múltipla. O Dr. Marc Dommergues afirma que, em média, a gestação tende a melhorar os sintomas da EM devido a mecanismos imunossupressores naturais. Ele esclarece, em sua conversa com o Dr. Anton Titov, que o risco real muitas vezes não está na gravidez em si, mas nas alterações necessárias no esquema medicamentoso. No entanto, esse efeito positivo médio não garante melhora para todas as pacientes.
Abordagem Multidisciplinar no Cuidado
O manejo bem-sucedido da gravidez em pacientes com esclerose múltipla exige uma colaboração próxima entre diversas especialidades médicas. O Dr. Marc Dommergues destaca a importância de uma equipe que inclua neurologistas, obstetras, anestesiologistas e pediatras. Isso é especialmente crítico para mulheres com EM grave e incapacidade significativa, nas quais a gravidez pode agravar desafios como função motora e respiração, exigindo parto em centro especializado.
Manejo Pós-Parto e Amamentação na EM
Para a grande maioria das pacientes, os medicamentos modificadores da doença podem ser mantidos com segurança durante toda a gravidez e na amamentação. O Dr. Marc Dommergues transmite uma mensagem esperançosa, confirmando que, com a doença controlada, as mulheres têm excelentes chances de uma gravidez e um bebê saudáveis. O período pós-parto requer atenção cuidadosa, pois o efeito protetor da gravidez diminui e o risco de recaída pode aumentar.
Casos Clínicos: EM Grave na Gravidez
O Dr. Marc Dommergues ilustra a natureza de alto risco da EM grave na gravidez com dois casos impactantes de sua prática. Em um deles, uma mulher com incapacidade motora significativa piorou drasticamente até o sétimo mês, necessitando de parto prematuro. Em outro, a interrupção da medicação resultou em cegueira e incapacidade de caminhar, exigindo tratamento emergencial com esteroides. Esses casos destacam que, embora a gravidez seja frequentemente segura, situações complexas demandam vigilância extrema.
Prognóstico Geral da EM na Gravidez
A perspectiva de longo prazo para mulheres com esclerose múltipla que engravidam é positiva. O Dr. Dommergues conclui sua conversa com o Dr. Anton Titov observando que, ao considerar toda a vida das mulheres com EM, não há diferença na progressão da doença entre aquelas que engravidam e as que não engravidam. Isso oferece uma garantia crucial de que o planejamento familiar é uma opção viável e segura para muitas mulheres que vivem com essa condição.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov: Esclerose múltipla e gravidez. Mulheres jovens são mais frequentemente afetadas pela esclerose múltipla do que homens. Surge, então, a questão do manejo bem-sucedido da gestação e de como ajudar tanto a mãe quanto o bebê. Qual é a sua visão sobre a melhor forma de tratar a gravidez em pacientes com esclerose múltipla?
Dr. Marc Dommergues: Como sempre, o primeiro passo é que o projeto de engravidar deve ser discutido, por um lado, com o neurologista, e por outro, com um obstetra. As coisas podem ser mais ou menos complicadas, dependendo do tipo de esclerose múltipla em questão.
Vamos percorrer exemplos de situações. Se considerarmos uma mulher que teve alguns surtos de esclerose múltipla, mas agora está bem e não faz uso de medicação, as coisas são perfeitas. É provável que a gravidez não tenha impacto em sua doença, e que a doença não afete a gestação.
No entanto, pode ser tranquilizador para a mulher dar à luz em um centro com neurologistas e obstetras familiarizados com esclerose múltipla. Isso é algo que poderíamos considerar mais por razões psicológicas do que médicas.
No outro extremo do espectro, pode haver uma mulher com esclerose múltipla muito grave. Ela está em uso de medicamentos complexos para EM, cujo impacto no feto não é totalmente conhecido. Além disso, ela tem uma incapacidade, por exemplo motora, e sabemos que se interromper os medicamentos, a situação pode piorar progressivamente.
Este é um caso difícil, que precisa ser discutido previamente. Requer colaboração muito próxima entre neurologistas e as equipes de obstetrícia, anestesia e pediatria.
Uma das questões será: podemos continuar os medicamentos para EM ou devemos suspendê-los? Muitas vezes, não temos dados suficientes sobre isso. Então, é uma decisão que tomamos em conjunto com a mulher. Também é difícil prever com certeza o que acontecerá se os medicamentos forem interrompidos.
O desfecho pode ser grave. Lembro-me de um caso de uma mulher com esclerose múltipla e incapacidade motora significativa. Ao sétimo mês de gravidez, ela mal conseguia comer e tinha dificuldade para respirar. Reintroduzimos medicamentos para EM potencialmente prejudiciais.
Mas, no final, tivemos que realizar o parto prematuramente porque seu estado era crítico.
Eis outro exemplo: uma mulher com uma forma grave de esclerose múltipla estava tomando medicamentos cujo impacto no feto era incerto. Ela interrompeu o tratamento e foi severamente afetada: perdeu a capacidade de caminhar e ficou cega no início da gravidez.
Precisou então de tratamento intensivo com esteroides e outros medicamentos para EM compatíveis com a gravidez. Eventualmente, ela se recuperou e ficou bem. Mas outros pacientes podem ter uma piora grave da EM não por causa da gravidez, mas pela interrupção dos medicamentos durante a gestação.
Dr. Anton Titov: Então, geralmente, não é a gravidez que afeta a esclerose múltipla, mas as mudanças no esquema medicamentoso para tratar a EM durante a gestação.
Dr. Marc Dommergues: Exatamente! Em média, a gravidez tende a melhorar a esclerose múltipla. E se observarmos toda a vida das mulheres com EM, não há diferença entre aquelas que engravidam e as que não engravidam.
Dr. Anton Titov: Há duas questões. Uma é o que acontece se interrompermos os medicamentos para EM durante a gravidez. A outra é que, quando dizemos que a EM melhora com a gravidez, isso é em média.
Dr. Marc Dommergues: E não se aplica a cada pessoa individualmente, é claro.
Dr. Anton Titov: Então, novamente, para a esclerose múltipla, é necessária uma interação muito próxima entre todos os membros da equipe médica. Você discutiu dois exemplos extremos: uma mulher com EM que fica bem durante a gravidez, e outra em estágio difícil da doença, em múltiplas medicações.
Se imaginarmos uma mulher grávida com EM em uso de medicamentos modificadores da doença, mas com a doença perfeitamente controlada e sem surtos recentes. Após o nascimento do bebê, o mesmo esquema de medicação é mantido? Ou tenta-se suspender os medicamentos para ver se ocorre surto? Considerando um cenário intermediário na EM e gravidez, como ele geralmente se apresenta? Quais questões devem ser consideradas?
Dr. Marc Dommergues: Eu diria que, no cenário intermediário e para a maioria das pacientes, os medicamentos modificadores da doença podem ser continuados durante toda a gravidez. Eles também podem ser mantidos durante a amamentação, e geralmente tudo transcorre sem problemas. Esta é a vasta maioria dos casos.
Dr. Anton Titov: Essa é uma mensagem muito esperançosa. É possível ter um bebê mesmo com esclerose múltipla. Se a EM estiver controlada, há boas chances de uma gravidez e um bebê saudáveis.
Dr. Marc Dommergues: Com certeza!