Esclerose Múltipla em Estágio Inicial: Neurodegeneração e Progressão para Incapacidade. Parte 1 de 2.

Esclerose Múltipla em Estágio Inicial: Neurodegeneração e Progressão para Incapacidade. Parte 1 de 2.

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O renomado especialista em neurodegeneração e esclerose múltipla, Dr. Paul Matthews, explica como a perda axonal começa precocemente na EM e resulta em incapacidade permanente. Ele detalha como técnicas de ressonância magnética podem medir a perda de volume cerebral como um biomarcador essencial. Essa neurodegeneração progride em ritmo constante desde os primeiros sintomas. A intervenção terapêutica precoce é crucial para prevenir danos cumulativos e a progressão da incapacidade.

Perda Axonal Precoce e Neurodegeneração na Esclerose Múltipla

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Perda Axonal Precoce e Incapacidade

O Dr. Paul Matthews, MD, afirma que o principal objetivo do tratamento da esclerose múltipla deve ser a redução da incapacidade permanente. Ele ressalta que essa incapacidade resulta diretamente da perda axonal cumulativa. É crucial observar que esse dano axonal ocorre muito precocemente no curso da doença. O Dr. Matthews explica que as decisões de tratamento não devem se basear apenas na gravidade dos sintomas clínicos apresentados pelo paciente em um dado momento. Em vez disso, a terapia deve focar em prevenir os ataques cumulativos que levam a danos neurológicos irreversíveis.

Ressonância Magnética e Medição do Volume Cerebral

Técnicas avançadas de ressonância magnética oferecem ferramentas poderosas para avaliar a neurodegeneração na esclerose múltipla. O Dr. Paul Matthews observa que esses exames podem identificar a perda de neurônios e axônios mesmo nos estágios iniciais da doença, incluindo a fase de síndrome clinicamente isolada (SCI), que frequentemente precede o diagnóstico formal de EM. Um biomarcador importante é a perda de volume cerebral, que serve como medida indireta de lesão às células nervosas e seus axônios. Trabalhos seminais da Professora Nicola De Stefano demonstraram a utilidade dessa abordagem no monitoramento da atividade da doença.

Taxa Constante de Neurodegeneração

Uma descoberta crucial na pesquisa da esclerose múltipla é a constância da taxa de neurodegeneração. O Dr. Paul Matthews destaca que a perda de volume cerebral progride de forma aproximadamente uniforme ao longo de toda a evolução da EM. Isso significa que neurônios e axônios continuam a morrer desde os primeiros sintomas da síndrome clinicamente isolada até a fase secundária progressiva avançada. Pesquisas marcantes da Dra. Elizabeth Fisher e do Dr. Rick Rudick na Cleveland Clinic corroboram esse achado. Eles acompanharam coortes de pacientes com EM por mais de uma década, demonstrando que as taxas de perda de volume cerebral mantiveram-se praticamente constantes nesse período prolongado.

Predizendo a Progressão da Incapacidade

A medição da perda de volume cerebral não é apenas uma ferramenta diagnóstica, mas também um forte indicador prognóstico. O Dr. Paul Matthews explica que a taxa de perda de volume cerebral ao longo do tempo é um bom preditor da progressão da incapacidade na esclerose múltipla. Essa correlação reforça a ligação direta entre a neurodegeneração subjacente e a piora clínica vivenciada pelos pacientes. A descoberta foi confirmada por múltiplos grupos de pesquisa, incluindo o trabalho do Dr. Matthews e seus colegas, oferecendo um alvo quantificável para terapias que visam retardar a progressão da doença.

Implicações para o Tratamento Precoce

Essas descobertas têm implicações profundas para a estratégia de tratamento na esclerose múltipla. O Dr. Paul Matthews argumenta que o momento da intervenção terapêutica deve refletir o início precoce do dano axonal. Portanto, o tratamento eficaz deve ser iniciado o quanto antes para prevenir danos cumulativos. A entrevista com o Dr. Anton Titov, MD, explora como esses insights devem influenciar diretamente a escolha da estratégia de tratamento pelo neurologista. O objetivo é proteger o sistema nervoso do ataque implacável que leva à incapacidade permanente, tornando a intervenção precoce e eficaz primordial.

Transcrição Completa

Dr. Anton Titov, MD: Você é um dos vários neurologistas líderes que descobriram e estudaram a neurodegeneração na esclerose múltipla. Você trabalhou com o Dr. Douglas Arnold na Universidade McGill em Montreal e com a Dra. Margaret Esiri, neuropatologista em Oxford, estudando a perda axonal na esclerose múltipla.

Deixe-me citar um de seus artigos de pesquisa: "O foco principal do tratamento na esclerose múltipla deve ser a redução da incapacidade permanente. É aceito que a incapacidade permanente resulta da perda axonal cumulativa, que ocorre muito precocemente na doença."

O tratamento eficaz pode estar disponível. Assim, o momento da intervenção terapêutica deve refletir o início do dano axonal, o que significaria tratar a esclerose múltipla precocemente. As decisões de tratamento não devem se basear na gravidade do estado clínico no momento, mas sim em prevenir os ataques cumulativos que, eventualmente, resultam em incapacidade permanente.

Isso tem implicações profundas para a estratégia de tratamento. É possível avaliar por ressonância magnética a perda neuronal e axonal em um paciente recém-diagnosticado com esclerose múltipla? Como isso afetaria as escolhas da estratégia de tratamento?

Dr. Paul Matthews, MD: Aprendemos que podemos usar uma variedade de exames diagnósticos baseados em diferentes técnicas de imagem para identificar a perda de neurônios e axônios, mesmo nos estágios mais precoces da esclerose múltipla, como na síndrome clinicamente isolada.

Um trabalho seminal foi realizado pelo Professor Nicola De Stefano, agora na Universidade de Siena. Ele mostrou que a taxa de perda de volume cerebral progride de forma aproximadamente uniforme ao longo de todo o curso da esclerose múltipla. A perda de volume cerebral é uma medida indireta da lesão às células nervosas e axônios.

Isso significa que as células nervosas continuam a morrer desde os primeiros sintomas da síndrome clinicamente isolada até a fase secundária progressiva tardia. A taxa de morte de axônios e células nervosas mantém-se aproximadamente similar.

Dados adicionais corroboram essa constatação. A Dra. Elizabeth Fisher, durante seu período na Cleveland Clinic, fez essa importante descoberta na esclerose múltipla. Junto com o Dr. Rick Rudick e colegas, ela estudou coortes de pacientes em tratamento inicial com interferon beta por um período prolongado—mais de uma década—e demonstrou que as taxas de perda de volume cerebral permaneceram aproximadamente constantes. Além disso, em outros trabalhos, ela e diversos pesquisadores, inclusive nós, mostramos que a taxa de perda de volume cerebral ao longo do tempo é um bom preditor da progressão da incapacidade.