O renomado cirurgião cardíaco Dr. Jürgen Ennker, MD, explica os benefícios e riscos da cirurgia de revascularização do miocárdio sem circulação extracorpórea (CRM sem CEC) em comparação com o método tradicional que utiliza a máquina coração-pulmão. Realizada com o coração ainda batendo, a CRM sem CEC elimina a necessidade de circulação extracorpórea, reduzindo assim os riscos de acidente vascular cerebral e complicações neurológicas. O Dr. Ennker destaca as vantagens dessa técnica, particularmente para pacientes com doenças renais ou pulmonares, e ressalta a importância da expertise cirúrgica para alcançar os melhores resultados.
Cirurgia de Revascularização Miocárdica sem Circulação Extracorpórea: Benefícios e Riscos
Navegar para a Seção
- Cirurgia Cardíaca sem Circulação Extracorpórea: Uma Visão Geral
- Vantagens da CRM sem CEC
- Redução do Risco de AVC na CRM
- Importância da Expertise Cirúrgica
- Desfechos e Segurança do Paciente
- Transcrição Completa
Cirurgia Cardíaca sem Circulação Extracorpórea: Uma Visão Geral
O Dr. Jürgen Ennker descreve a evolução da cirurgia cardíaca sem circulação extracorpórea, que teve início na década de 1990 na América do Sul e posteriormente se difundiu pela América do Norte e Europa. Essa técnica, conhecida como CRM sem CEC (cirurgia de revascularização miocárdica sem circulação extracorpórea), permite que os cirurgiões realizem a revascularização do miocárdio em um coração que continua batendo, dispensando o uso da máquina coração-pulmão. O procedimento envolve enxertar os três vasos coronários enquanto o coração mantém seus batimentos, evitando as complicações associadas ao bypass cardiopulmonar.
Vantagens da CRM sem CEC
A CRM sem CEC oferece vantagens significativas, especialmente para pacientes com doenças renais ou pulmonares. O Dr. Ennker ressalta que evitar a máquina coração-pulmão reduz o risco de edema cerebral e comprometimentos neurológicos. Pacientes submetidos a esse procedimento frequentemente apresentam uma recuperação mais rápida, comparável à de uma apendicectomia, sem os efeitos colaterais neurológicos típicos da cirurgia convencional com circulação extracorpórea.
Redução do Risco de AVC na CRM
O Dr. Ennker destaca a redução do risco de acidente vascular cerebral (AVC) com a CRM sem CEC, graças à técnica de "não tocar na aorta". Ao evitar a manipulação da aorta, minimiza-se o risco de embolia e consequente infarto cerebral. Essa abordagem, combinada com a ressecção do átrio esquerdo para prevenir embolias por fibrilação atrial, reduz significativamente a incidência de AVC nos pacientes submetidos ao procedimento.
Importância da Expertise Cirúrgica
O Dr. Jürgen Ennker enfatiza o papel crucial da expertise cirúrgica para o sucesso da CRM sem CEC. O procedimento exige técnica precisa e experiência para garantir a patência e a funcionalidade dos enxertos arteriais. Ferramentas e técnicas avançadas, como a medição do fluxo sanguíneo e da patência do enxerto, auxiliam os cirurgiões a obter resultados otimizados e a aumentar a segurança do paciente.
Desfechos e Segurança do Paciente
A CRM sem CEC está associada a melhores desfechos para o paciente, sobretudo para aqueles com comorbidades graves. O Dr. Ennker observa que a manutenção da pressão arterial e da função cardíaca durante a cirurgia fornece feedback em tempo real, assegurando a segurança e a eficácia do procedimento. Os pacientes se beneficiam com a redução de complicações neurológicas e uma recuperação mais rápida, tornando a CRM sem CEC uma opção valiosa para indivíduos de alto risco.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov: O senhor realizou dezenas de milhares de procedimentos e tem um interesse particular na cirurgia de revascularização miocárdica sem circulação extracorpórea. Trata-se de uma cirurgia em coração batendo, tecnicamente mais exigente para o cirurgião, mas com vantagens para os pacientes. Por favor, compare os riscos e benefícios da CRM sem circulação extracorpórea com a técnica clássica que utiliza o bypass. Conte-nos sobre sua experiência com essa técnica avançada de revascularização do miocárdio.
Dr. Jürgen Ennker: A cirurgia cardíaca sem circulação extracorpórea foi introduzida na década de 1990 na América do Sul. Chegou aos países desenvolvidos da América do Norte e Europa com a chamada operação MIDCAB, que envolve uma pequena incisão no tórax lateral para revascularizar a artéria descendente anterior esquerda. A partir desse procedimento, evoluiu-se para a CRM sem CEC em coração batendo, permitindo enxertar todos os três vasos coronários enquanto o coração continua batendo.
A vantagem é dispensar a máquina coração-pulmão — daí o nome "sem circulação extracorpórea". A canulação da aorta necessária para usar a máquina pode deslocar debris de placa aórtica, levando a embolia e, consequentemente, a infarto cerebral. No estudo clínico SYNTAX, a taxa de AVC em pacientes com doença arterial coronariana foi de 2,2%.
Dr. Jürgen Ennker: Com a técnica sem circulação extracorpórea, usando o enxerto em T — implantando a artéria torácica interna esquerda na descendente anterior e conectando um segundo enxerto a ela —, aplicamos a técnica de "não tocar na aorta", sem anastomose aórtica. O resultado é zero AVCs. Nenhum infarto cerebral causado pela cirurgia cardíaca. É um grande avanço!
Podemos reduzir drasticamente o risco de AVC com a CRM sem CEC. Sempre resseco o átrio esquerdo, pois 90% das embolias originam-se dele. Na fibrilação atrial, formam-se trombos que, se ejetados após o retorno ao ritmo sinusal, causam AVC. Ao ressecar o átrio esquerdo, eliminamos também esse risco. Portanto, com "não toque na aorta" e ressecção do átrio esquerdo, removemos dois principais fatores de risco para AVC e outras complicações neurológicas.
O procedimento sem CEC tem muitas vantagens, não apenas neurológicas. Pode ser realizado em pacientes com comorbidades significativas, como doença renal ou pulmonar. Evitar a máquina coração-pulmão traz benefícios substanciais, comprovados na literatura.
Dr. Anton Titov: Claro, é essencial um cirurgião cardíaco experiente e uma técnica adequada. Hoje dispomos de ferramentas para medir o fluxo sanguíneo e a patência dos enxertos arteriais, permitindo confirmar imediatamente que o enxerto está pérvio. A literatura indica que 10 a 15% das anastomoses coronárias têm defeitos técnicos; com esse monitoramento, detectamos problemas na hora, não apenas depois na UTI por ECG ou enzimas cardíacas. É um grande avanço para a segurança do paciente.
Dr. Jürgen Ennker: Na CRM sem CEC, mantemos a pressão arterial e o ECG monitorados, com o coração contraindo. Esses parâmetros dão segurança de que a anastomose está tecnicamente adequada e de que o paciente terá boa evolução a longo prazo. Temos feedback direto do corpo do paciente durante todo o procedimento, o que é outra vantagem significativa.
Os pacientes acordam como após uma apendicectomia. Já com a máquina coração-pulmão, muitos são submetidos a tomografias que revelam edema cerebral transitório, com possíveis sequelas neurológicas. Esses problemas não ocorrem com a CRM sem CEC. É um grande passo à frente, especialmente para pacientes graves ou com déficits neurológicos. Os benefícios são enormes, mas o fator decisivo é a expertise do cirurgião.
Dr. Anton Titov: O cirurgião é indeed o fator prognóstico mais importante, embora fatores de risco relacionados ao paciente também influenciem.