Polifarmácia em pacientes idosos. Por que os médicos prescrevem múltiplos medicamentos? 10. [Partes 1 e 2]

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O renomado especialista em polifarmácia e medicina interna, Dr. Pier Mannucci, explica por que pacientes idosos recebem tantos medicamentos. Ele detalha os graves riscos associados à polifarmácia, incluindo eventos adversos e aumento da mortalidade. Dr. Mannucci discute um estudo italiano marcante que conseguiu reduzir a média de prescrições de seis para quatro medicamentos. Ele aponta a falta de um médico coordenador como o principal problema. A solução proposta envolve a desprescrição sistemática e o uso de ferramentas como o software INTERCheck para identificar interações medicamentosas perigosas.

Polifarmácia em Idosos: Causas, Riscos e Estratégias de Desprescrição

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Os Riscos da Polifarmácia

A polifarmácia é definida como o uso de cinco ou mais medicamentos por um paciente. Comum no cuidado de idosos, essa prática traz riscos significativos. O Dr. Pier Mannucci, MD, destaca os principais perigos, que incluem maior probabilidade de interações medicamentosas e efeitos adversos.

Regimes medicamentosos complexos frequentemente comprometem a adesão do paciente, levando a desfechos clínicos desfavoráveis. Mais criticamente, a polifarmácia está associada a taxas elevadas de hospitalização e aumento da mortalidade geral.

Por que os Médicos Prescrevem em Excesso

A raiz do problema não está na má intenção, mas em falhas sistêmicas na coordenação do cuidado. O Dr. Pier Mannucci, MD, explica que idosos geralmente apresentam múltiplas condições crônicas, cada uma tratada por um especialista diferente—como cardiologistas ou pneumologistas.

Esses profissionais seguem diretrizes específicas por doença, mas não integram suas prescrições com as de outros médicos. O Dr. Pier Mannucci, MD, observa que "ninguém faz a integração". Essa abordagem fragmentada faz com que nenhum médico avalie o paciente de forma holística, resultando em uma cascata de prescrições sem supervisão.

A Solução: Desprescrição

A desprescrição é o processo deliberado de revisar e descontinuar medicamentos desnecessários. Evidências robustas apoiam sua eficácia. O Dr. Pier Mannucci, MD, cita um estudo israelense com idosos (média de 82 anos) que tiveram medicamentos interrompidos.

Os resultados foram expressivos: apenas 2% dos pacientes precisaram retomar os medicamentos suspensos, e quase 90% relataram melhora na saúde e no bem-estar. Isso demonstra que muitos fármacos oferecem benefício limitado, mas apresentam riscos substanciais.

O Estudo Italiano REPOSI

O Dr. Pier Mannucci, MD, liderou na Itália o registro REPOSI, que disponibilizou aos médicos uma ferramenta de software gratuita—o INTERCheck—para identificar interações medicamentosas perigosas. O objetivo era alertar sobre os riscos da polifarmácia e incentivar a desprescrição.

Os resultados foram significativos: os médicos participantes reduziram a prescrição média de seis para quatro medicamentos por paciente. O estudo também tornou a polifarmácia extrema (mais de dez medicamentos) muito menos frequente. Essa iniciativa, da Sociedade Italiana de Medicina Interna, serve como modelo para outros sistemas de saúde.

O Papel dos Médicos Generalistas

Combater a polifarmácia exige uma mudança na filosofia de cuidado, com responsabilidade centralizada nos médicos generalistas—como clínicos, internistas e geriatras—que enxergam o paciente como um todo.

Esses profissionais possuem o conhecimento amplo necessário para avaliar prós e contras de uma lista completa de medicamentos, realizando a integração que frequentemente falta aos especialistas. Como destaca o Dr. Pier Mannucci, MD, em sua discussão com o Dr. Anton Titov, MD, essa abordagem holística é crucial para a segurança do paciente e para reduzir prescrições desnecessárias e prejudiciais.

Transcrição Completa

Dr. Anton Titov, MD: Idosos frequentemente recebem múltiplas prescrições. O uso de cinco ou mais medicamentos caracteriza a polifarmácia, que eleva os riscos de interações, efeitos adversos e baixa adesão, além de aumentar taxas de hospitalização e mortalidade.

Um estudo israelense com pacientes de 82 anos em média—que usavam cerca de oito medicamentos—interrompeu quatro ou cinco deles. Apenas 2% precisaram retomar os fármacos suspensos, e quase 90% relataram melhora na saúde e no bem-estar.

Você liderou um grande estudo italiano sobre polifarmácia em idosos por mais de 10 anos. Quais lições podemos extrair para outros contextos?

Dr. Pier Mannucci, MD: Você resumiu perfeitamente. Acrescento: a polifarmácia é frequente porque idosos têm múltiplas doenças e consultam vários especialistas—cada um prescreve conforme diretrizes específicas, sem integração. Ninguém vê o paciente holisticamente.

Os médicos generalistas, internistas e geriatras são essenciais para integrar prescrições e avaliar interações. A desprescrição, como comprovado, traz benefícios claros. Em nossa iniciativa REPOSI, fornecemos uma ferramenta gratuita (INTERCheck) que ajudou a reduzir a prescrição média de seis para quatro medicamentos e diminuiu casos extremos de polifarmácia.

É crucial envolver agentes reguladores e conscientizar sobre os custos e riscos dessa prática. A desprescrição deve ser replicada globalmente, como já ocorre em Israel e Nova Zelândia. Especialistas precisam equilibrar avanços tecnológicos com uma visão integral do paciente.

Dr. Anton Titov, MD: Obrigado. Com o envelhecimento populacional e a superespecialização, a polifarmácia permanece um desafio urgente, demandando ação de médicos de atenção primária, geriatras e clínicos.