Tratamento com Natalizumab para Esclerose Múltipla Altamente Ativa: Um Guia Completo para o Paciente. a40

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Esta revisão abrangente de 27 estudos demonstra que o natalizumabe (Tysabri) é significativamente mais eficaz do que outros tratamentos para pacientes com esclerose múltipla remitente-recorrente altamente ativa que continuam apresentando surtos, apesar do tratamento. A análise constatou que o natalizumabe reduziu as taxas de surto em 21% a 45% em comparação com outras terapias, com probabilidade 2,15 vezes maior de os pacientes permanecerem sem surtos por 12 meses. Além disso, os pacientes apresentaram progressão da incapacidade significativamente menor e taxas mais altas de melhora da incapacidade, reforçando o natalizumabe como uma opção eficaz para casos de esclerose múltipla subtratada.

Tratamento com Natalizumabe para Esclerose Múltipla Altamente Ativa: Um Guia Abrangente para Pacientes

Sumário

Contexto: Entendendo a EM Altamente Ativa

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica do sistema nervoso central que danifica a bainha de mielina, a camada protetora das fibras nervosas. Esse dano provoca diversos sintomas neurológicos, como fadiga crônica, problemas de visão, dificuldades cognitivas, espasmos musculares e falta de coordenação.

A forma recorrente-remitente (EMRR) é marcada por surtos de sintomas (recaídas) seguidos de recuperação parcial ou total. Dentro desse grupo, há pacientes com doença altamente ativa (AA), que enfrentam recaídas frequentes e acúmulo significativo de incapacidade.

Dois subtipos são reconhecidos: a EM rapidamente evolutiva grave (REG), em que ocorrem duas ou mais recaídas incapacitantes no ano, com novas lesões na ressonância magnética, e a EM subótima tratada (SOT), em que há pelo menos uma recaída no último ano, apesar do tratamento adequado com terapia modificadora da doença.

Embora o natalizumabe (comercializado como Tysabri) seja aprovado para pacientes REG e SOT em muitos países, sistemas de saúde como o NICE do Reino Unido recomendam seu uso apenas para REG. Isso restringe o acesso ao tratamento para pacientes SOT, mesmo com a doença em atividade.

Como a Pesquisa Foi Conduzida

Pesquisadores realizaram uma revisão extensa da literatura e uma metanálise para avaliar a eficácia do natalizumabe em pacientes com EMRR altamente ativa subótima tratada. Foram consultadas seis grandes bases de dados médicas até janeiro de 2023, resultando em 4.509 registros únicos.

Após triagem rigorosa, 27 estudos (com 30 publicações) atenderam aos critérios de inclusão. Esses estudos incluíram:

  • 1 ensaio controlado não randomizado
  • 15 estudos de coorte (observacionais, acompanhando grupos ao longo do tempo)
  • 11 estudos de série de casos (relatos detalhados de séries de pacientes)

Os critérios de inclusão exigiam que os estudos envolvessem adultos (a partir de 18 anos) com EMRR confirmada e pelo menos uma recaída no ano anterior, apesar do tratamento com pelo menos uma terapia modificadora da doença. Os estudos compararam o natalizumabe a outros tratamentos ou não usaram comparador.

Foram extraídos dados sobre recaídas, progressão da incapacidade, resultados de ressonância magnética e segurança. A qualidade dos estudos foi avaliada com ferramentas padronizadas, e as análises compararam o natalizumabe com terapias de plataforma (interferon-beta, acetato de glatirâmer, dimetil fumarato, teriflunomida) e tratamentos de alta eficácia (principalmente fingolimode).

Resultados Detalhados do Tratamento e Desfechos

A análise mostrou benefícios significativos do natalizumabe em diversas medidas de atividade e progressão da doença. Abaixo, os principais achados dos 27 estudos:

Redução de Recaídas: O natalizumabe foi superior na redução de recaídas em comparação com terapias de plataforma e outros tratamentos de alta eficácia. Aos 12 meses, os pacientes em uso do medicamento tiveram 2,15 vezes mais chance de permanecer livres de recaídas do que aqueles em terapias de plataforma (intervalo de confiança de 95%: 1,11 a 4,17). O benefício manteve-se significativo aos 24 meses (1,32 vezes) e 50 meses (2,17 vezes).

Taxa Anualizada de Recaída (TAR): A redução na frequência de recaídas foi expressiva e estatisticamente significativa em todos os períodos avaliados:

  • 12 meses: 0,45 recaídas a menos por ano (redução de 45%)
  • 24 meses: 0,21 recaídas a menos por ano (redução de 21%)
  • 36 meses: 0,23 recaídas a menos por ano (redução de 23%)
  • 48 meses: 0,22 recaídas a menos por ano (redução de 22%)

Desfechos de Incapacidade: O natalizumabe demonstrou benefícios relevantes na prevenção da progressão da incapacidade. Aos 50 meses, os pacientes tiveram risco 26% menor de progressão confirmada em 3 meses (razão de risco: 0,74, IC 95%: 0,55-0,97). Além disso, apresentaram 1,77 vezes mais chance de melhora da incapacidade confirmada em 3 meses aos 24 meses.

Resultados de Ressonância Magnética: A evidência radiológica reforçou a eficácia do tratamento. Os pacientes tiveram 1,70 vezes mais chance de permanecer sem atividade radiológica da doença aos 24 meses e 2,09 vezes mais chance de ficar livres de atividade clínica e radiológica combinadas.

Comparação com Fingolimode: Em comparação direta com o fingolimode, o natalizumabe apresentou resultados superiores na maioria das medidas. Os pacientes tiveram taxas anuais de recaída significativamente menores aos 12 meses (0,23 recaídas a menos) e 24 meses (0,19 recaídas a menos), além de maior probabilidade de permanecer sem recaídas aos 12 meses (1,35 vezes) e melhores desfechos de incapacidade.

Segurança e Interrupção do Tratamento

A revisão analisou as taxas de interrupção e o perfil de segurança. Embora os dados sobre eventos adversos tenham sido limitados, as evidências disponíveis não mostraram diferenças significativas nas taxas de descontinuação entre natalizumabe e outros tratamentos aos 12 e 24 meses.

Análises de sensibilidade, incluindo apenas estudos com baixo risco de viés, confirmaram os principais resultados, reforçando a confiabilidade dos achados. Os benefícios do natalizumabe mantiveram-se estatisticamente significativos mesmo considerando apenas estudos de alta qualidade.

O Que Isso Significa para os Pacientes

Esta revisão oferece evidências sólidas de que o natalizumabe é mais eficaz que outros tratamentos para pacientes com EMRR altamente ativa subótima tratada. Os resultados mostraram consistentemente melhor desempenho em redução de recaídas, prevenção de incapacidade e controle radiológico da doença.

Para pacientes SOT que continuam com recaídas apesar do tratamento, o natalizumabe representa uma opção potencialmente superior. A eficácia observada é comparável aos benefícios já estabelecidos para pacientes com EM rapidamente evolutiva grave (REG).

Esses achados têm implicações importantes para diretrizes de tratamento e políticas de acesso, apoiando a consideração do natalizumabe para todos os pacientes com EMRR altamente ativa, não apenas para aqueles com a forma rapidamente evolutiva.

Limitações e Considerações do Estudo

Apesar do valor das evidências, algumas limitações devem ser consideradas. A maioria dos estudos era observacional, não randomizada, o que pode introduzir viés. Os pesquisadores contornaram isso com avaliação rigorosa da qualidade e análises de sensibilidade.

Dos 15 estudos de coorte, apenas 4 tiveram baixo risco de viés. Nove apresentaram risco moderado, principalmente por fatores de confusão, e 2 estudos mais o ensaio controlado não randomizado tiveram risco grave. Os estudos de série de casos geralmente tiveram risco incerto devido ao relato incompleto dos métodos.

Variações na duração do acompanhamento (1 a 5 anos) e diferenças na mensuração dos desfechos também dificultam comparações diretas. Além disso, a maioria das comparações com tratamentos de alta eficácia envolveu apenas fingolimode, limitando conclusões sobre terapias mais recentes.

Recomendações para Pacientes e Próximos Passos

Com base nesta revisão, pacientes com EMRR altamente ativa e recaídas persistentes devem:

  1. Discutir opções de tratamento com seu neurologista, incluindo o natalizumabe como terapia potencial
  2. Revisar o histórico de recaídas e o nível de atividade da doença para verificar se preenchem critérios de EM altamente ativa
  3. Considerar uma segunda opinião se o acesso ao natalizumabe for restrito pelas diretrizes atuais
  4. Monitorar possíveis efeitos colaterais e discutir estratégias de redução de riscos com a equipe de saúde
  5. Participar ativamente das decisões sobre tratamento, com base na avaliação individual de riscos e benefícios

Os pacientes também podem defender mudanças políticas que ampliem o acesso a tratamentos eficazes para todos com EM altamente ativa, não apenas para subtipos específicos. As evidências desta revisão apoiam a consideração igualitária do natalizumabe para populações REG e SOT.

Informações da Fonte

Título do Artigo Original: Revisão da literatura e metanálise da terapia com natalizumabe para o tratamento da esclerose múltipla recorrente-remitente altamente ativa na população de pacientes com 'terapia subótima'

Autores: Mary Chappella, Alice Sandersona, Tarunya Arunb, Colin Greenc,*, Heather Daviesc, Michael Tempestc, Deborah Watkinsa, Mick Arbera, Rachael McCoola

Afiliação: aYork Health Economics Consortium, University of York, York, Reino Unido; bUniversity Hospitals of Coventry and Warwickshire, Department of Neurosciences, University of Warwick, Coventry, Reino Unido; cBiogen Idec Ltd, B5 Foundation Park, Roxborough Way, Maidenhead, Reino Unido

Publicado em: Journal of the Neurological Sciences, Volume 464, 2024, 123172

Nota: Este artigo, voltado para pacientes, baseia-se em pesquisa revisada por pares originalmente publicada em revista científica. Busca traduzir informações médicas complexas para linguagem acessível, preservando todo o conteúdo factual e dados numéricos do estudo original.