O renomado especialista em trauma do joelho e cirurgia minimamente invasiva, Dr. Pablo Gelber, explica por que planos de tratamento personalizados são essenciais para lesões meniscais, ligamentares e danos à cartilagem. Ele detalha o papel fundamental de soluções biológicas, como o transplante de cartilagem, para retardar a artroplastia em pacientes jovens e ativos, e esclarece quando a artroplastia parcial ou total se torna a necessária "solução metálica" para casos graves de osteoartrite localizada.
Tratamento Personalizado de Lesões do Joelho: Do Reparo Biológico à Artroplastia
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- Filosofia de Tratamento Personalizado para Lesões do Joelho
- O Papel das Soluções Metálicas nas Lesões do Joelho
- Transplante de Cartilagem Preenche uma Lacuna Crítica
- Artroplastias Parciais do Joelho para Danos Localizados
- Por que os Cirurgiões Evitam a Artroplastia do Joelho em Pacientes Jovens
- Falha da Prótese e Maiores Taxas de Revisão
Filosofia de Tratamento Personalizado para Lesões do Joelho
O Dr. Pablo Gelber enfatiza que uma abordagem padronizada é ineficaz no tratamento de lesões do joelho. Ele defende que cada paciente exige um plano de tratamento personalizado, baseado em seu diagnóstico específico, idade e nível de atividade. Essa filosofia é essencial para abordar lesões complexas que envolvem menisco, ligamentos e cartilagem.
O Dr. Gelber explica que uma ruptura ligamentar em um atleta de 20 anos demanda uma estratégia totalmente diferente da mesma lesão em uma pessoa de 50 anos. Para pacientes jovens, um transplante autólogo de cartilagem—usando tecido do próprio paciente—pode ser a melhor opção. Já para pacientes mais velhos, um transplante alogênico de um doador pode ser uma solução biológica mais adequada. Esse processo de decisão personalizado considera milhares de variáveis para garantir o melhor resultado a longo prazo.
O Papel das Soluções Metálicas nas Lesões do Joelho
Apesar de priorizar tratamentos biológicos e conservadores, o Dr. Pablo Gelber reconhece que as "soluções metálicas", como as artroplastias, têm um papel definido no algoritmo de tratamento. Ele realiza todos os tipos de cirurgia do joelho e não descarta a artroplastia quando ela é a opção mais adequada para o diagnóstico do paciente.
Essas soluções tornam-se necessárias quando outros tratamentos falham ou não são viáveis. Para alguns pacientes, o transplante de cartilagem não é uma opção, criando uma lacuna significativa no cuidado. Nessas situações, a artroplastia do joelho é a única maneira de restaurar a função e aliviar a dor, consolidando-se como uma ferramenta vital no arsenal do cirurgião.
Transplante de Cartilagem Preenche uma Lacuna Crítica
O Dr. Gelber identifica o transplante fresco de aloenxerto osteocondral como um tratamento biológico fundamental que preenche uma lacuna crucial no cuidado de lesões do joelho. Este procedimento é indicado para pacientes jovens demais para uma artroplastia metálica, mas para os quais outros tratamentos conservadores são insuficientes ou já falharam.
Essa técnica avançada envolve transplantar cartilagem e osso saudáveis de um doador para a área lesionada do joelho do paciente. Ela adia efetivamente a necessidade de uma prótese, ganhando tempo valioso para indivíduos jovens e ativos. O Dr. Gelber destaca esse procedimento como um pilar de sua prática, oferecendo soluções de longo prazo em vez de correções temporárias.
Artroplastias Parciais do Joelho para Danos Localizados
Nem todas as soluções metálicas envolvem uma artroplastia total. O Dr. Pablo Gelber descreve as artroplastias parciais como uma opção menos invasiva para pacientes com osteoartrite grave confinada a um único compartimento. O joelho possui três compartimentos: medial, lateral e patelofemoral (anterior).
Quando o dano está isolado em uma área, o cirurgião pode realizar uma artroplastia unicondilar (para os lados medial ou lateral) ou uma artroplastia patelofemoral (para a patela). Esses procedimentos preservam osso e tecido saudáveis dos compartimentos não afetados, oferecendo uma solução metálica mais conservadora, com recuperação mais rápida, para candidatos em torno de 50 a 55 anos.
Por que os Cirurgiões Evitam a Artroplastia do Joelho em Pacientes Jovens
Um objetivo central no tratamento de lesões do joelho em pacientes jovens é postergar ao máximo uma solução metálica. O Dr. Gelber define "jovem" como pacientes na faixa dos 40, 50 e início dos 55 anos. A relutância não se deve à ineficácia das artroplastias, mas ao fato de que elas não são projetadas para durar a vida toda sob condições de alta demanda.
Pacientes mais jovens submetem suas articulações a muito mais estresse por meio de trabalho, esportes e atividades diárias. Implantar uma prótese nessa faixa etária praticamente garante a necessidade de uma cirurgia de revisão complexa no futuro. Por isso, a filosofia do Dr. Gelber é buscar primeiro tratamentos biológicos de longo prazo, reservando a artroplastia apenas como último recurso.
Falha da Prótese e Maiores Taxas de Revisão
A vida útil limitada de uma prótese de joelho é um fator crucial para evitar a implantação precoce. O Dr. Pablo Gelber usa uma analogia: usar uma prótese em um paciente jovem é como dirigir um carro de alta performance em estrada em alta velocidade, acelerando o desgaste. Já em um paciente idoso, o uso é mais similar ao de um carro urbano, em baixa velocidade.
Esse uso intenso resulta em taxas de revisão mais altas em prazos menores. Enquanto uma prótese pode durar 15 a 20 anos em um paciente mais velho, ela provavelmente falhará muito antes em alguém de 50 anos. Esse maior risco de falha e a complexidade da cirurgia de revisão são as principais razões pelas quais o Dr. Gelber e seus colegas priorizam o reparo biológico e opções minimamente invasivas para pacientes ativos com lesões no joelho.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov: Você atende pessoas com lesões meniscais, patelares ou ligamentares do joelho. Você ajuda pacientes a evitar artroplastias. Em que situações os métodos de cirurgia minimamente invasiva oferecem vantagem sobre "soluções metálicas" no tratamento de lesões do joelho? Quando as "soluções metálicas" podem ser realmente melhores para pacientes com essas lesões? Existem tais situações?
Dr. Pablo Gelber: Sim, algo que considero muito importante do ponto de vista médico é que não se deve oferecer apenas um tipo específico de tratamento. Como disse antes, cada pessoa exige uma abordagem diferente. Não estou dizendo que não realizo "soluções metálicas". Faço todos os tipos de tratamento realizados mundialmente no joelho.
Mas, por exemplo, você pode se especializar apenas em lesões meniscais ou ligamentares. Aí chega um paciente que também tem uma lesão articular concomitante que precisa ser tratada. Talvez precise de uma osteotomia para realinhar o membro inferior. Ou talvez tenha um problema de cartilagem muito grave ao mesmo tempo.
É necessário realizar algum tratamento para a cartilagem, como um transplante. Ou até mesmo uma artroplastia total do joelho, que também pode ser feita junto com o tratamento de lesões ligamentares ou meniscais. Então, repito, acho mais correto personalizar o tratamento para cada diagnóstico específico.
Não é a mesma coisa tratar uma ruptura ligamentar em um paciente de 20 anos e em um de 50 anos. A idade importa na prática. Por exemplo, em um paciente de 20 anos, poderíamos fazer um transplante autólogo de cartilagem, usando tecido do próprio paciente.
Por outro lado, em um paciente de 50 anos, talvez seja melhor um transplante alogênico. Esse é apenas um exemplo das diferenças que precisamos considerar para cada paciente com lesão do joelho. Existem milhares de variáveis a serem levadas em conta para oferecer o tratamento ideal.
Claro, tentamos focar mais em tratamentos conservadores e biológicos. Queremos adiar ao máximo uma "solução metálica" ou artroplastia. Mas isso não significa que as soluções metálicas não tenham seu lugar no tratamento de lesões do joelho.
Há pacientes para os quais certos tratamentos não são viáveis. Não podemos oferecer transplante de cartilagem a todos. Essa é uma lacuna no algoritmo de tratamento de lesões ligamentares, meniscais e articulares.
Às vezes, é preciso ir direto para uma "solução metálica" ou artroplastia. Por isso, é positivo dispor de tratamentos biológicos, como o transplante de aloenxerto osteocondral fresco. Ele preenche uma lacuna para pacientes que ainda não têm idade para uma artroplastia.
E podemos oferecer esse tipo de tratamento. Resumindo minha filosofia: cada paciente precisa de um tratamento personalizado e ajustado para sua lesão do joelho.
Dr. Anton Titov: Quando falamos em "soluções metálicas", o que inclui além da artroplastia total do joelho? Quais são outros tipos comuns de tratamentos com implantes para lesão do joelho?
Dr. Pablo Gelber: Consideramos a artroplastia total do joelho em pacientes jovens principalmente quando há falha de outros tratamentos. Porque o que menos queremos é fazer uma artroplastia total em um paciente jovem. Por "jovem", entenda pacientes de 40, 50, 55 anos.
Mas a artroplastia total não é a única "solução metálica". Existem também as artroplastias parciais do joelho. Com artroplastia parcial, queremos dizer que não é necessário recobrir toda a articulação com metal.
Para contextualizar a anatomia, o joelho tem três compartimentos: lateral, medial e anterior. Se a osteoartrite grave estiver confinada a apenas uma dessas áreas, pode-se realizar uma artroplastia parcial. Pode ser unicondilar (lateral ou medial) ou patelofemoral (para a patela e o fêmur).
Esses são tratamentos relativamente menos invasivos para lesões localizadas. Não há tanta preocupação em oferecer uma artroplastia unicondilar para pessoas por volta de 50 ou 55 anos.
Mas, em pacientes mais jovens que isso, ainda preferimos evitar artroplastias totais ou parciais. Não é apenas por não querermos. Há duas razões principais para não optar por "soluções metálicas" em pacientes jovens.
Todos sabemos que as próteses de joelho precisam ser substituídas após alguns anos de uso. É fato. Alguns dizem que duram 10, 15, 20 anos. Mas, se fizermos artroplastias em pacientes mais jovens, a taxa de revisão é muito maior.
A revisão ocorre em um prazo cada vez menor porque o uso é mais intenso. Quem tem 50 anos usa muito mais a articulação do que quem tem 70. É como ter um carro: se você o dirige devagar na cidade, ele dura mais. Mas se tem uma Ferrari e acelera na estrada, o desgaste é maior.
O risco de falha da prótese aumenta devido ao uso excessivo. Pacientes mais jovens usam muito mais a articulação. Por isso, tentamos evitar artroplastias. Não é porque a artroplastia total ou parcial não seja boa no curto ou médio prazo.
Mas, para pacientes mais jovens, buscamos oferecer não soluções de curto prazo, mas opções de tratamento de longo prazo.