O renomado especialista em transplante cardíaco e tratamento de insuficiência cardíaca avançada, Dr. Pascal Leprince, MD, destaca a necessidade crítica de melhorar a coordenação do cuidado e aponta as futuras direções da terapia. Ele ressalta que a primeira grande melhoria necessária é uma organização mais eficiente dos especialistas em insuficiência cardíaca, seguida por avanços na tecnologia de CDVE (coração artificial de ventrículo esquerdo), transplante cardíaco e corações artificiais totais. O Dr. Leprince também enfatiza a urgência de desenvolver melhores opções de tratamento para pacientes idosos com insuficiência cardíaca avançada, nos quais a qualidade de vida é o principal objetivo.
Futuro do Tratamento da Insuficiência Cardíaca Avançada: DAVE, Transplante e Coração Artificial Total
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- Coordenação do Cuidado em Insuficiência Cardíaca
- DAVE versus Transplante Cardíaco
- Futuro da Imunossupressão
- Coração Artificial Total
- Insuficiência Cardíaca no Idoso
- Transcrição Completa
Coordenação do Cuidado em Insuficiência Cardíaca
O Dr. Pascal Leprince, MD, aponta uma grande lacuna no tratamento da insuficiência cardíaca avançada: a falta de uma equipe multidisciplinar coordenada. Ele explica que o sistema atual frequentemente falha com os pacientes, que podem consultar um clínico geral, um cardiologista local e um cardiologista hospitalar sem coordenação central. Essa fragmentação faz com que opções abrangentes, como terapia de ressincronização cardíaca, DAVE (Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda) ou transplante, não sejam discutidas a tempo.
O modelo ideal, segundo o Dr. Leprince, coloca um cardiologista dedicado à insuficiência cardíaca no centro do cuidado. Esse especialista organizaria todos os outros médicos "satélites", incluindo eletrofisiologistas e cirurgiões cardíacos, para garantir continuidade e o melhor caminho terapêutico. Ele observa que, na França, a cardiologia de insuficiência cardíaca ainda não é uma especialidade formal com diploma próprio, o que dificulta a implementação dessa estrutura otimizada.
DAVE versus Transplante Cardíaco
Para pacientes com insuficiência cardíaca avançada que não respondem mais à medicação, o Dr. Leprince descreve as duas principais opções: implante de DAVE e transplante cardíaco. Ele nota variações geográficas no uso, com alguns países optando mais por DAVEs e outros, como a França, realizando mais transplantes. Uma questão crítica permanece: qual tratamento é realmente melhor para cada paciente?
O Dr. Leprince defende um ensaio clínico randomizado controlado para comparar diretamente o implante de DAVE com o transplante. Ele ressalta que a tecnologia do DAVE melhorou muito e sua principal vantagem é a disponibilidade imediata, sem lista de espera. No entanto, as taxas de complicações podem ser maiores do que com o transplante. Um estudo rigoroso é essencial para orientar decisões e melhorar os resultados de longo prazo.
Futuro da Imunossupressão
O sucesso de longo prazo do transplante cardíaco depende de medicamentos imunossupressores para prevenir a rejeição. O Dr. Leprince discute o futuro desse aspecto crítico do cuidado pós-transplante. Ele expressa incerteza sobre o desenvolvimento de novos fármacos mais eficazes, observando que poucos agentes novos chegam ao mercado.
Há mais de 15 anos discute-se a personalização da terapia imunossupressora para cada paciente, um objetivo ainda distante. O Dr. Leprince espera que regimes melhores e mais individualizados sejam desenvolvidos para aumentar a longevidade e a qualidade de vida dos receptores. Essa continua sendo uma área-chave para pesquisa e desenvolvimento.
Coração Artificial Total
O Dr. Leprince aborda os pacientes com insuficiência cardíaca biventricular, onde ambos os lados do coração falham. Esses casos não são candidatos a DAVE e dependem atualmente do Coração Artificial Total SynCardia (CAT) como ponte para o transplante. Embora eficaz, a qualidade de vida com o dispositivo não é suficiente para ser considerado uma terapia definitiva.
O futuro está no desenvolvimento de corações artificiais totais de próxima geração. O Dr. Leprince destaca o Coração Artificial Total Carmat, implantado em pacientes na França, Praga e Astana durante ensaios clínicos. Ele confirma que tratamentos experimentais com esse dispositivo devem ser retomados na França. A chegada desses novos dispositivos pode oferecer uma solução viável de longo prazo para a insuficiência biventricular terminal.
Insuficiência Cardíaca no Idoso
Uma parcela significativa dos pacientes com insuficiência cardíaca é idosa, e o Dr. Leprince explica que suas opções são severamente limitadas. Pacientes acima de 75 anos geralmente não são candidatos a transplante ou DAVE devido aos riscos elevados. O corte é aproximado, mas acima dessa idade o tratamento se restringe basicamente à medicação e à ressincronização cardíaca.
Para essa demografia, o objetivo do tratamento muda completamente: foca-se na qualidade de vida, não na sobrevida. O Dr. Leprince enfatiza a necessidade urgente de medicamentos melhores adaptados a idosos. O futuro deve incluir terapias que permitam aos mais velhos viver seus últimos anos com a melhor qualidade possível.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov, MD: O senhor é um cirurgião líder em transplante cardíaco e lida com insuficiência cardíaca avançada. Há muitas mudanças nessa área. Como o senhor vê o futuro do transplante cardíaco e do tratamento da insuficiência cardíaca avançada?
Dr. Pascal Leprince, MD: Espero que, daqui a muitas centenas de anos, não precisemos mais de transplantes. Porque entenderemos tudo sobre a doença e seremos capazes de prevenir a doença arterial coronariana antes que evolua para insuficiência cardíaca grave. Uma segunda opinião médica é importante. Esse é o futuro.
Até lá, teremos que enfrentar todos os tratamentos. A primeira melhoria que podemos trazer não é médica nem tecnológica, mas organizacional. Isso já acontece nos EUA, mas na Europa ainda é difícil. Precisamos de melhores médicos dedicados à insuficiência cardíaca—não apenas cardiologistas hospitalares, mas também locais, clínicos gerais, intervencionistas. Na França, não temos uma especialização formal em cardiologia de insuficiência cardíaca.
É preciso uma equipe: cardiologista de insuficiência cardíaca, eletrofisiologista, cirurgião, enfermeiros. Todos trabalhando juntos para oferecer o melhor tratamento. Do contrário, o paciente vê vários médicos sem coordenação, recebe medicamentos diferentes, e ninguém discute todas as opções. O paciente piora ano após ano e só chega ao DAVE ou transplante quando já é tarde.
Isso não é a maneira correta de organizar a saúde pública. Falta continuidade do cuidado. O paciente precisa de um coordenador central que organize os médicos "satélites". O cardiologista de insuficiência cardíaca deve ser o principal gestor.
Dr. Anton Titov, MD: Lembremos que há dois tratamentos para insuficiência cardíaca avançada refratária: suporte circulatório mecânico (DAVE) e transplante cardíaco.
Dr. Pascal Leprince, MD: Em alguns países, implantam-se mais DAVEs; na França, fazemos mais transplantes. Ainda não sabemos qual é o melhor tratamento para cada paciente. Precisamos de um ensaio clínico randomizado controlado. Já houve uma proposta anos atrás, mas não deu certo. Precisamos retomar essa comparação, porque o DAVE melhorou muito.
A vantagem do DAVE é a disponibilidade imediata, sem espera. A desvantagem são as possíveis complicações. A mortalidade pós-cirurgia é similar à do transplante, mas faltam dados de longo prazo. Espero que, em alguns anos, tenhamos um estudo que nos ajude a escolher o melhor tratamento para cada caso.
Talvez surjam melhores imunossupressores, mas não tenho certeza—poucos novos chegam ao mercado. Há 15-20 anos falamos em personalizar a terapia imunossupressora, e ainda não estamos lá. Seria ótimo, mas não sei quando vai acontecer.
Há outro grupo: pacientes com insuficiência biventricular. Não são candidatos a DAVE, apenas a coração artificial total. O SynCardia é bom como ponte para transplante, mas a qualidade de vida não é suficiente para terapia definitiva.
Esperamos ter corações artificiais totais melhores, como o Carmat, que já foi implantado em ensaios na França, Praga e Astana. Em breve reiniciaremos o tratamento experimental na França. Outros dispositivos estão em desenvolvimento e podem ajudar esses pacientes.
Também precisamos pensar nos idosos. Muitos casos de insuficiência cardíaca ocorrem em pacientes acima de 75 anos, que não são candidatos a transplante ou DAVE devido aos riscos. O corte é por volta dos 75 anos—talvez 77 para DAVE, mas com riscos maiores. Eles só têm medicação e ressincronização.
Para idosos, o objetivo não é sobrevida, mas qualidade de vida. Precisamos de medicamentos melhores para permitir que vivam bem até o fim. Essa é a meta do tratamento medicamentoso nessa população. Uma segunda opinião médica é importante. Esse é o futuro da insuficiência cardíaca e do transplante.