O renomado especialista em medicina fetal e gestações complexas, Dr. Yves Ville, MD, explica como a cirurgia a laser endoscópica trata a síndrome de transfusão feto-fetal. O procedimento atua sobre os vasos sanguíneos placentários anômalos para corrigir o desequilíbrio no fluxo sanguíneo entre os gêmeos. O Dr. Ville destaca as altas taxas de sucesso: 75% de chance de sobrevivência de ambos os gêmeos e 90% de chance de sobrevivência de pelo menos um deles. Ele também aborda o principal risco do procedimento, o parto prematuro, que em geral ocorre entre 33 e 34 semanas de gestação.
Cirurgia Endoscópica a Laser para Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF)
Navegar para a Seção
- Visão Geral do Tratamento da STFF
- Técnica Cirúrgica a Laser
- Encontrando um Especialista
- Resultados da Cirurgia para STFF
- Riscos de Prematuridade
- Momento Ideal para o Parto
- Transcrição Completa
Visão Geral do Tratamento da STFF
A cirurgia endoscópica a laser é o tratamento padrão para a síndrome de transfusão feto-fetal. O Dr. Yves Ville, pioneiro na área, explica que o procedimento atua diretamente na causa raiz da STFF. A síndrome ocorre quando gêmeos idênticos compartilham a placenta, mas apresentam fluxo sanguíneo desigual. Um dos bebês recebe sangue em excesso, enquanto o outro recebe quantidade insuficiente. A cirurgia utiliza um fetoscópio para visualizar e tratar os vasos sanguíneos problemáticos na superfície placentária.
Técnica Cirúrgica a Laser
A técnica cirúrgica para STFF é altamente reprodutível. O Dr. Yves Ville destaca que a etapa mais crítica é a entrada correta no útero para expor o campo operatório. A cirurgia consiste na coagulação dos vasos sanguíneos conectantes anormais na placenta. Segundo o Dr. Ville, o procedimento não exige habilidade cirúrgica excepcional, mas sim meticulosidade e exaustividade. O objetivo é identificar e tratar com laser todos os vasos responsáveis pelo desequilíbrio no fluxo sanguíneo entre os gêmeos.
Encontrando um Especialista
O acesso a cuidados especializados para STFF melhorou significativamente. O Dr. Yves Ville ressalta que a cirurgia fetal endoscópica já é realizada em diversos centros renomados de países desenvolvidos. Isso é crucial, pois as gestantes afetadas pela síndrome geralmente não podem viajar longas distâncias com conforto. O procedimento, realizado pela primeira vez em 1991, acumula um histórico de sucesso de 30 anos. O Dr. Anton Titov enfatiza a importância de os pacientes conhecerem essa opção de tratamento para encontrar um especialista adequado próximo de sua região.
Resultados da Cirurgia para STFF
Os resultados da cirurgia para STFF são bem estabelecidos e altamente positivos. O Dr. Yves Ville apresenta estatísticas claras de sobrevida: há 75% de chance de ambos os gêmeos sobreviverem. A taxa de sobrevida de pelo menos um dos bebês é de 90%. Isso significa que o risco de perder um dos gêmeos é de cerca de 15%, e o risco de perder ambos é de aproximadamente 5%. Criticamente, o Dr. Ville confirma que, quando ambos sobrevivem, o desenvolvimento neurológico costuma ser completamente normal.
Riscos de Prematuridade
O principal risco após a cirurgia para STFF é a ruptura prematura pré-termo de membranas (RPPPM). O Dr. Yves Ville explica que isso ocorre porque os instrumentos cirúrgicos precisam atravessar as membranas amnióticas, que são frágeis. Essa complicação acontece em cerca de 20% dos casos. Embora nem todos os casos de RPPPM levem ao parto imediato, é uma preocupação significativa. A gestação média no parto após a cirurgia fetal é de 33 semanas. A prematuridade torna-se, assim, o principal desafio após o sucesso no tratamento da STFF.
Momento Ideal para o Parto
O planejamento do parto é parte fundamental dos cuidados pós-cirúrgicos. O Dr. Ville recomenda que o parto ocorra geralmente entre 34 e 35 semanas de gestação. Essa é uma estratégia deliberada para prevenir complicações tardias, como morte intrauterina ou descolamento prematuro de placenta, que podem ocorrer após a intervenção na placenta. O Dr. Anton Titov contextualiza esse momento em relação a gestações gemelares padrão, atualmente recomendadas para parto até 37 semanas. O parto com 35 semanas é considerado um desfecho seguro e planejado para bebês submetidos a esse procedimento salvador.
Transcrição Completa
Dr. Anton Titov: Você já mencionou isso, mas deixe-me fazer uma pergunta mais específica. Você é especializado em tratar bebês ainda não nascidos e gestações complicadas, como mencionou. Uma complicação particular é a gravidez de dois fetos que compartilham o suprimento sanguíneo, mas com fluxos desiguais para cada um. Isso leva à supernutrição e excesso de sangue em um feto e à subnutrição no outro.
Como você disse, utiliza a cirurgia endoscópica a laser para tratar a síndrome de transfusão feto-fetal. Você opera não no feto ou no bebê em desenvolvimento, mas na placenta. Poderia descrever com mais detalhes como aborda a síndrome de transfusão feto-fetal? Como os pacientes podem encontrá-lo nessas situações? Nem todos que têm essa condição têm a oportunidade de consultar um especialista como você.
Acho importante que as pessoas saibam como o procedimento é feito e possam encontrar um profissional adequado.
Dr. Yves Ville: A cirurgia para transfusão feto-fetal hoje é reprodutível em vários centros. Temos orgulho de ter desenvolvido uma técnica que é aplicada por diferentes profissionais com o mesmo sucesso. Não é algo que se aprende da noite para o dia, mas após cerca de 50 casos, com a estratégia adequada, a entrada no útero é o ponto mais importante.
Expondo corretamente o campo operatório, a cirurgia em si não é difícil, pois consiste basicamente em coagular vasos. Não exige grande habilidade cirúrgica; é mais uma questão de acesso adequado. Se isso for feito com meticulosidade e exaustividade na busca pelos vasos anormais, a cirurgia pode ser realizada em muitos lugares.
Além disso, essas gestantes não podem viajar com facilidade. Portanto, se houver um centro renomado próximo—e hoje há, em todos os países desenvolvidos, profissionais que realizam cirurgia fetal endoscópica—é melhor do que percorrer longas distâncias, já que a viagem é desconfortável para elas.
A primeira cirurgia fetal endoscópica foi feita em 1991. Há 30 anos avaliamos seu sucesso e reprodutibilidade. Hoje, é um padrão de cuidado estabelecido.
Dr. Anton Titov: Como são os resultados? Qual é o desfecho clínico esperado para a síndrome de transfusão feto-fetal?
Dr. Yves Ville: As pessoas podem esperar 75% de sobrevida de ambos os gêmeos e 90% de sobrevida de pelo menos um. Assim, o risco de perder um é de cerca de 15%, e de perder ambos, cerca de 5%. Se os dois sobrevivem, o desenvolvimento é normal; completamente normal.
Dr. Anton Titov: Sim, dependendo da idade gestacional ao nascer, mas aí o problema passa a ser a prematuridade, e não mais a síndrome. É comum a prematuridade afetar o feto após a cirurgia?
Dr. Yves Ville: Sim, um dos pontos críticos da cirurgia fetal—tanto endoscópica quanto aberta, embora não façamos esta última—é a ruptura de membranas, porque os instrumentos precisam atravessá-las. As membranas são frágeis; a ruptura nas semanas seguintes à cirurgia é relativamente comum, em cerca de 20% dos casos. Alguns evoluem para parto prematuro; outros não, pois é apenas uma questão mecânica.
Nem todas as gestantes dão à luz muito precocemente, mas em média, o parto ocorre com 33 semanas. De qualquer forma, não ultrapassamos 34 semanas, pois ao operar a placenta, parte dela pode ter sua função comprometida.
Anos atrás, observamos alguns acidentes tardios, como morte intrauterina ou descolamento de placenta, e decidimos ser mais cautelosos, antecipando um pouco o parto. Assim, entre 34 e 35 semanas, consideramos o momento ideal para o nascimento após a cirurgia fetal.
Desde então, as recomendações para gestações gemelares normais também evoluíram. Hoje está estabelecido que gêmeos não devem nascer após 37 semanas. Portanto, nascer com 35 semanas, após tudo o que passaram com a síndrome, não é mais o problema central.