Este amplo ensaio clínico demonstra que a radioterapia estereotáxica corporal (SBRT) de alta precisão controla efetivamente as metástases espinhais, com excelentes resultados em longo prazo. Pacientes submetidos ao tratamento com dose intensificada alcançaram 94,7% de controle local em dois anos, apresentando efeitos colaterais graves mínimos — inclusive aqueles com tumores de alto risco próximos à medula espinhal. O estudo acompanhou 128 pacientes com 143 metástases espinhais em 18 centros internacionais, revelando resultados especialmente favoráveis para portadores de câncer de mama e de próstata.
Radioterapia Avançada para Metástases na Coluna: Tratamento Eficaz Mesmo em Casos Complexos
Sumário
- Introdução: Entendendo o Tratamento de Metástases na Coluna
- Desenho do Estudo e Seleção de Pacientes
- Abordagem de Tratamento: Radioterapia de Precisão
- Principais Resultados: Controle Excelente com Efeitos Colaterais Mínimos
- Desfechos no Controle da Dor
- O Que Isso Significa na Prática
- Limitações do Estudo
- Recomendações para Pacientes
- Fonte das Informações
Introdução: Entendendo o Tratamento de Metástases na Coluna
Até 70% das metástases ósseas ocorrem na coluna vertebral, causando dor intensa, complicações neurológicas e risco de fraturas. A radioterapia convencional oferece alívio temporário, mas muitas vezes exige retratamento devido à eficácia limitada. Já a radioterapia estereotáxica corporal (SBRT) administra doses altamente precisas e potentes de radiação, capazes de eliminar tumores com maior eficácia e preservar tecidos saudáveis.
Avanços recentes no tratamento do câncer aumentaram a sobrevida de pacientes com metástases, especialmente aqueles com doença oligometastática (metástases limitadas). Esses pacientes podem se beneficiar significativamente de tratamentos locais direcionados, como a SBRT combinada com terapias sistêmicas. No entanto, casos com tumores que invadem o canal vertebral ou tecidos adjacentes costumavam ser excluídos de estudos anteriores por questões de segurança.
Este ensaio clínico internacional investigou especificamente se a SBRT com doses intensificadas poderia tratar, com segurança e eficácia, metástases na coluna — inclusive aquelas com envolvimento anatômico complexo próximo a estruturas nervosas críticas e à medula espinhal.
Desenho do Estudo e Seleção de Pacientes
O estudo analisou dados de 128 pacientes com 143 metástases vertebrais, tratados entre 2016 e 2023 em 18 centros médicos ao redor do mundo. Todos tinham doença oligometastática (5 ou menos metástases no total) com comprometimento da coluna. A idade mediana foi de 68 anos, e 60,2% tinham câncer de mama ou próstata como tumor primário.
Foram elegíveis pacientes com 18 anos ou mais, com 1 a 2 metástases espinhais não tratadas, dolorosas ou com risco de instabilidade, confirmadas por diagnóstico de câncer, sem sintomas neurológicos progressivos e com expectativa de vida de pelo menos um ano. Aqueles sem dor puderam participar de um braço não randomizado do estudo. Todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, e a pesquisa seguiu rigorosas diretrizes éticas.
Das 143 metástases tratadas, 23 (16,1%) tinham envolvimento epidural (tumor em contato com a proteção da medula espinhal) e 22 (15,4%) apresentavam extensão paraespinhal (tumor invadindo tecidos ao redor). Esses casos de maior complexidade foram intencionalmente incluídos para testar a eficácia do tratamento em situações desafiadoras.
Abordagem de Tratamento: Radioterapia de Precisão
Os pacientes receberam SBRT guiada por imagem com dose intensificada, utilizando dois esquemas diferentes conforme a anatomia individual:
- 10 sessões em 2 semanas: 48,5 Gy no tumor principal + 30 Gy nas áreas adjacentes (para tumores com envolvimento epidural)
- 5 sessões em 1 semana: 40 Gy no tumor principal + 20 Gy nas áreas adjacentes (para tumores sem envolvimento epidural)
O tratamento empregou técnicas avançadas, como radioterapia de intensidade modulada e arco volúmico modulado, para direcionar com precisão os tumores e poupar estruturas críticas como a medula espinhal. O planejamento incluiu tomografias e ressonâncias magnéticas detalhadas para definir com exatidão as áreas de alta dose e as regiões que receberiam doses profiláticas mais baixas.
Essa estratégia de reforço integrado permitiu administrar diferentes doses de radiação em uma mesma sessão, maximizando o controle do tumor e reduzindo os riscos para as estruturas neurológicas sensíveis.
Principais Resultados: Controle Excelente com Efeitos Colaterais Mínimos
Os resultados mostraram eficácia excepcional com alto perfil de segurança. Após acompanhamento mediano de 24 meses, apenas 4 das 142 metástases avaliadas (2,8%) tiveram recidiva local. A taxa acumulada de falha local foi de apenas 0,8% em 1 ano e 5,3% em 2 anos — ou seja, 94,7% das metástases tratadas permaneceram controladas após dois anos.
Os índices de sobrevida foram impressionantes: 94,3% dos pacientes estavam vivos em 1 ano e 82,2% em 2 anos. A análise estatística revelou que pacientes com tumores primários de mama ou próstata tiveram sobrevida significativamente melhor em comparação com outros tipos de câncer. O hazard ratio para outros cânceres foi de 7,91, indicando que esses pacientes tiveram risco de morte quase 8 vezes maior durante o estudo.
Vale destacar que a presença de envolvimento epidural ou paraespinhal não esteve associada a piores resultados, desafiando a noção anterior de que essas características comprometeriam a eficácia do tratamento.
Segurança e Efeitos Colaterais
O tratamento mostrou-se muito seguro, sem registro de eventos adversos grau 4 ou 5. Apenas 7 pacientes (5,5%) apresentaram efeitos colaterais grau 3, todos manejados com sucesso. Mais importante: nenhum paciente desenvolveu mielopatia (lesão na medula) ou plexopatia (lesão em plexo nervoso) relacionadas à radiação, que são as complicações mais temidas nesse tipo de tratamento.
Os efeitos colaterais mais comuns foram fadiga (32,8%) e dor (28,1%), geralmente leves a moderados. Esses dados mostram que, mesmo com doses intensificadas, a terapia foi bem tolerada.
Fraturas por Compressão Vertebral
Fraturas por compressão vertebral (FCV) são um risco conhecido após radiação na coluna. O estudo registrou 12 FCV no total: 4 fraturas pré-existentes (2,8%) e 8 novas fraturas após o tratamento (5,6%). O risco estimado de novas fraturas foi de 6,7% em 1 ano e 9,8% em 2 anos — um resultado favorável em comparação a outras técnicas de SBRT.
Nenhum fator específico — como tipo de tumor, escore de estabilidade da coluna ou tamanho do tumor — conseguiu prever o risco de fratura, sugerindo que esse risco é manejável com a abordagem utilizada.
Desfechos no Controle da Dor
Para as 54 metástases que causavam dor antes do tratamento, houve melhora significativa em todos os momentos avaliados. Os escores de dor na escala visual analógica (0 a 10) caíram, em média, 2,8 pontos em 6 meses, 3,2 pontos em 12 meses e 2,6 pontos em 24 meses — todas as reduções estatisticamente significativas.
A proporção de pacientes com redução clinicamente relevante da dor (≥2 pontos na escala) aumentou ao longo do tempo: 38,9% em 1 mês, 48,1% em 3 meses, 53,7% em 6 meses e 55,6% em 12 meses. Isso demonstra um alívio duradouro para a maioria dos pacientes tratados.
O Que Isso Significa na Prática
Este estudo oferece evidências robustas de que a SBRT com dose intensificada proporciona excelente controle em longo prazo de metástases na coluna, com efeitos colaterais graves mínimos. A técnica mostrou-se eficaz mesmo em casos complexos, com tumores próximos ao canal vertebral ou tecidos circundantes — situações antes consideradas de alto risco.
Pacientes com metástases de câncer de mama ou próstata obtiveram benefício especial, com sobrevida significativamente maior. O tratamento também garantiu alívio duradouro da dor para a maioria, mantendo estabilidade da coluna com taxas aceitáveis de fratura.
A abordagem com múltiplas sessões (5 a 10) mostrou equilíbrio ideal entre eficácia máxima e complicações mínimas, especialmente na proteção da medula espinhal e na redução do risco de fraturas.
Limitações do Estudo
Apesar dos resultados promissores, algumas limitações devem ser consideradas. O estudo foi encerrado antes do previsto devido ao recrutamento lento, o que limitou o número total de participantes. O pequeno número de recidivas (apenas 4 casos) dificultou uma análise mais detalhada dos fatores de risco.
O desenho não randomizado para parte dos pacientes pode ter introduzido viés de seleção. Além disso, o acompanhamento de 2 anos, embora relevante, pode não capturar desfechos ou complicações tardias que surjam além desse período.
Por fim, a população do estudo foi majoritariamente europeia, e os resultados podem variar em populações mais diversas ou em diferentes sistemas de saúde.
Recomendações para Pacientes
Com base nos resultados, pacientes com metástases limitadas na coluna devem considerar os seguintes pontos:
- Procure avaliação especializada: Essa técnica avançada exige expertise disponível em grandes centros oncológicos
- Discuta todas as opções: Considere a SBRT principalmente se você tem de 1 a 5 metástases no total, especialmente em casos de câncer de mama ou próstata
- Não descarte casos complexos: Mesmo tumores próximos à medula podem ser tratáveis com essa abordagem
- Prepare-se para o tratamento: As 5 a 10 sessões exigem precisão diária, mas geralmente causam apenas efeitos colaterais leves
- Monitore a saúde óssea: Embora o risco de fratura seja controlado, converse com sua equipe sobre cuidados com os ossos
Pacientes devem discutir detalhadamente com seu radio-oncologista se essa abordagem é adequada ao seu caso, considerando tipo de câncer, localização da metástase e condições gerais de saúde.
Fonte das Informações
Título do Artigo Original: Dose-intensified SBRT for vertebral oligometastases: results from a prospective clinical trial
Autores: Matthias Guckenberger, Lotte Wilke, Charlotte Billiet, Susanne Rogers, Ciro Franzese, Daniel Schnell, Mateusz Spałek, Daniel M. Aebersold, Hossein Hemmatazad, Thomas Zilli, Judit Boda-Heggemann, Brigitta G. Baumert, Jean-Jacques Stelmes, Franziska Nägler, Philipp Gut, Christian Weiß, Alessio Bruni, Frank Zimmermann, Robert Förster, Jörg Zimmer, Indira Madani
Publicação: Radiotherapy and Oncology 208 (2025) 110940
Nota: Este texto de linguagem acessível para pacientes baseia-se em pesquisa revisada por pares de um ensaio clínico internacional realizado em 18 centros médicos entre 2016 e 2023.